TUDO PELA EDUCAÇÃO
ESCREVER A HISTÓRIA É UM MODO DE LIVRAR-SE DO PASSADO.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Companheiros e Companheiras
"Cadê Anderson Leandro"?
Jornalista da "Quem TV", uma empresa popular de comunicação,
um companheiro comprometido na luta pela liberdade de informação.
Engrosso o coro de toda comunidade de companheiros e companheiras, no apelo a polícia do Paraná,
a todas as autoridades, que respondam a pergunta.
"Cadê Anderson Leandro"?
Jornalista da "Quem TV", uma empresa popular de comunicação,
um companheiro comprometido na luta pela liberdade de informação.
Engrosso o coro de toda comunidade de companheiros e companheiras, no apelo a polícia do Paraná,
a todas as autoridades, que respondam a pergunta.
Caminhada amanhã (18) cobra informações sobre Anderson Leandro
17/10/2012
Em reunião ontem (16) na sede do Sindijor-PR, lideranças de movimentos sociais, jornalistas, assessores parlamentares, parentes e amigos do jornalista desaparecido definiram passeata pelas ruas de Curitiba
“Cadê Anderson Leandro?” é o nome do ato que acontece amanhã (18) em Curitiba (veja página nas redes sociais) para cobrar das autoridades mais informações sobre o paradeiro do jornalista. A ação começa com passeata, a partir das 11 horas, em frente à Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz, Rua Barão do Cerro Azul, centro da capital paranaense, passará pelo Calçadão da XV até a Boca Maldita. Na ocasião será assinada uma carta conjunta das organizações participantes (veja manifesto abaixo). Famílias de outras pessoas desaparecidas em Curitiba também participarão do ato público.
Hoje completa uma semana do desaparecimento de Anderson Leandro da Silva, 38 anos. A família acredita que o fato tem motivação política, pois Anderson trabalha há quase duas décadas diretamente com movimentos populares, possui o maior acervo de imagens políticas e de cenas de conflitos relacionados às pressões dos movimentos sociais do Paraná. Cartazes com a fotografia do jornalista e com informações sobre as circunstâncias do sumiço estão nas ruas da capital. Telefones para contato: Delegacia de Vigilancia e Capturas – 3815-3000 - (Texto e foto por Regis Luís Cardoso).
Manifesto
Cadê Anderson Leandro?
Caminhada neste dia 18 cobra respostas sobre o desaparecimento do jornalista
O desaparecimento do jornalista Anderson Leandro continua sem respostas. Cada dia sem notícias cresce o risco de o pior acontecer. É também um dia a mais de tormento para sua família, amigos, colegas e companheiros. Por isso, achar Anderson Leandro é a primeira e mais importante responsabilidade dos órgãos da polícia e do Estado.
No último dia 16 representantes de várias entidades sindicais, de movimentos sociais e mandatos de parlamentares estiveram reunidos para organizar uma mobilização pelas buscas de Anderson Leandro. Cartazes estão sendo espalhados pela cidade e cada informação tem sido divulgada nas redes sociais. Uma manifestação também foi aprovada.
Caminhada
A caminhada “Cadê Anderson Leandro?”, marcada para este dia 18 (quinta-feira), tem por objetivo chamar a atenção da sociedade. A intenção também é exigir o envolvimento do governador Beto Richa, do secretário de segurança pública Cid Vasques e da secretária de justiça e cidadania e direitos humanos Maria Tereza Mello neste caso. A concentração inicia 11 horas, na Praça Tiradentes, e a caminhada seguirá até a Boca Maldita.
Hipóteses
Ainda não se pode afirmar o que realmente aconteceu. A polícia diz trabalhar com várias hipóteses. De todo modo, quando alguém desaparece fica a sensação de incertezas para todos. Significa que qualquer pessoa pode estar sujeito a passar por isto.
Se houver alguma relação política (Anderson Leandro é jornalista, atua com movimentos sociais e sindicais e na TV Comunitária de Curitiba) a questão é ainda mais preocupante. Neste caso, estaríamos falando de um ataque ao direito à informação, à liberdade de expressão e à verdade. Estaríamos tratando, então, do atentado ao interesse da sociedade em ser informada, da garantia de que profissionais da imprensa possam exercer sua função.
Não podemos perder tempo. É urgente que Anderson Leandro seja encontrado e que o caso seja desvendado. As entidades que assinam este documento acreditam na mobilização da sociedade e convocam a todos a participar da caminhada deste dia 18.
Denuncie
Anderson está desaparecido desde a última quarta-feira (10 de outubro de 2012), quando saiu da empresa de comunicação, por volta das 12h30, dirigindo o carro Kangoo (Renault), de cor branca, placa: AON 8615. Quem tiver alguma informação deve entrar em contato com a Delegacia de Vigilância e Capturas, pelo número (41) 3815-3000. A delegacia fica na Avenida Afonso Penna, número 974, no bairro Tarumã, em Curitiba.
Assinam
OAB/PR - FENAJ - Sindijor - Consulta Popular - CUT - CEFURIA - Mandato Dr. Rosinha - APP/Sind - Tortura Nunca Mais - MST - Assembléia Popular - Mov. Negro Unificado - SindSaúde - CWBTV - Blog LadoB - Mandato Luciana Rafanhin - UNEGRO - SindUTFPR - Senge - SISMUC - Com. Direitos Humanos/ALEP - UBM - PSOL/Ctba - Terra de Direitos - PT/Ctba - Ecos da Nossa Terra - Mandato Tadeu Veneri - Sind. dos Bancários/Ctba
“Cadê Anderson Leandro?” é o nome do ato que acontece amanhã (18) em Curitiba (veja página nas redes sociais) para cobrar das autoridades mais informações sobre o paradeiro do jornalista. A ação começa com passeata, a partir das 11 horas, em frente à Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz, Rua Barão do Cerro Azul, centro da capital paranaense, passará pelo Calçadão da XV até a Boca Maldita. Na ocasião será assinada uma carta conjunta das organizações participantes (veja manifesto abaixo). Famílias de outras pessoas desaparecidas em Curitiba também participarão do ato público.
Hoje completa uma semana do desaparecimento de Anderson Leandro da Silva, 38 anos. A família acredita que o fato tem motivação política, pois Anderson trabalha há quase duas décadas diretamente com movimentos populares, possui o maior acervo de imagens políticas e de cenas de conflitos relacionados às pressões dos movimentos sociais do Paraná. Cartazes com a fotografia do jornalista e com informações sobre as circunstâncias do sumiço estão nas ruas da capital. Telefones para contato: Delegacia de Vigilancia e Capturas – 3815-3000 - (Texto e foto por Regis Luís Cardoso).
Manifesto
Cadê Anderson Leandro?
Caminhada neste dia 18 cobra respostas sobre o desaparecimento do jornalista
O desaparecimento do jornalista Anderson Leandro continua sem respostas. Cada dia sem notícias cresce o risco de o pior acontecer. É também um dia a mais de tormento para sua família, amigos, colegas e companheiros. Por isso, achar Anderson Leandro é a primeira e mais importante responsabilidade dos órgãos da polícia e do Estado.
No último dia 16 representantes de várias entidades sindicais, de movimentos sociais e mandatos de parlamentares estiveram reunidos para organizar uma mobilização pelas buscas de Anderson Leandro. Cartazes estão sendo espalhados pela cidade e cada informação tem sido divulgada nas redes sociais. Uma manifestação também foi aprovada.
Caminhada
A caminhada “Cadê Anderson Leandro?”, marcada para este dia 18 (quinta-feira), tem por objetivo chamar a atenção da sociedade. A intenção também é exigir o envolvimento do governador Beto Richa, do secretário de segurança pública Cid Vasques e da secretária de justiça e cidadania e direitos humanos Maria Tereza Mello neste caso. A concentração inicia 11 horas, na Praça Tiradentes, e a caminhada seguirá até a Boca Maldita.
Hipóteses
Ainda não se pode afirmar o que realmente aconteceu. A polícia diz trabalhar com várias hipóteses. De todo modo, quando alguém desaparece fica a sensação de incertezas para todos. Significa que qualquer pessoa pode estar sujeito a passar por isto.
Se houver alguma relação política (Anderson Leandro é jornalista, atua com movimentos sociais e sindicais e na TV Comunitária de Curitiba) a questão é ainda mais preocupante. Neste caso, estaríamos falando de um ataque ao direito à informação, à liberdade de expressão e à verdade. Estaríamos tratando, então, do atentado ao interesse da sociedade em ser informada, da garantia de que profissionais da imprensa possam exercer sua função.
Não podemos perder tempo. É urgente que Anderson Leandro seja encontrado e que o caso seja desvendado. As entidades que assinam este documento acreditam na mobilização da sociedade e convocam a todos a participar da caminhada deste dia 18.
Denuncie
Anderson está desaparecido desde a última quarta-feira (10 de outubro de 2012), quando saiu da empresa de comunicação, por volta das 12h30, dirigindo o carro Kangoo (Renault), de cor branca, placa: AON 8615. Quem tiver alguma informação deve entrar em contato com a Delegacia de Vigilância e Capturas, pelo número (41) 3815-3000. A delegacia fica na Avenida Afonso Penna, número 974, no bairro Tarumã, em Curitiba.
Assinam
OAB/PR - FENAJ - Sindijor - Consulta Popular - CUT - CEFURIA - Mandato Dr. Rosinha - APP/Sind - Tortura Nunca Mais - MST - Assembléia Popular - Mov. Negro Unificado - SindSaúde - CWBTV - Blog LadoB - Mandato Luciana Rafanhin - UNEGRO - SindUTFPR - Senge - SISMUC - Com. Direitos Humanos/ALEP - UBM - PSOL/Ctba - Terra de Direitos - PT/Ctba - Ecos da Nossa Terra - Mandato Tadeu Veneri - Sind. dos Bancários/Ctba
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Estou de volta!
Agora estou vivendo em Rio Branco do Ivaí, região central do Estado do Paraná.
Trabalho no Colégio Estadual Rio Branco, por algumas semanas trabalhei no Colégio Marechal Floriano Peixoto, Município de Grandes Rios e na Escola de Campo Porto Espanhol, na beira do Rio Ivaí.
Em tempo de eleições, vou publicar alguns textos sobre esse tema.
Boa eleição a todos e a todas!
Agora estou vivendo em Rio Branco do Ivaí, região central do Estado do Paraná.
Trabalho no Colégio Estadual Rio Branco, por algumas semanas trabalhei no Colégio Marechal Floriano Peixoto, Município de Grandes Rios e na Escola de Campo Porto Espanhol, na beira do Rio Ivaí.
Em tempo de eleições, vou publicar alguns textos sobre esse tema.
Boa eleição a todos e a todas!
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Egito: o fim da ditadura
Egito: uma ditadura à beira da morte
Assim, a "libertação" do Cairo ainda tem que andar até a consumação. O fim pode ser claro. A tragédia ainda não acabou.
Escrito por Robert Fisk
Os tanques egípcios, os manifestantes em delírio sentados sobre eles, as bandeiras, as 40 mil pessoas lacrimejando, gritando vivas na Praça da Liberdade e um membro da Fraternidade Muçulmana rezando à volta dos tanques, sentado entre seus ocupantes. Pode-se, talvez, comparar à libertação de Bucareste? Subi eu também sobre um tanque de combate, e só conseguia pensar naqueles maravilhosos filmes da libertação de Paris. A apenas algumas centenas de metros dali, os guardas da segurança de Mubarak, nos uniformes pretos, ainda atiravam contra manifestantes perto do ministério do Interior. Foi celebração selvagem de vitória histórica, os tanques de Mubarak libertando a capital de sua própria ditadura.
No mundo de pantomima de Mubarak - e de Barack Obama e Hillary Clinton em Washington -, o homem que ainda se diz presidente do Egito deu posse a um vice-presidente cuja escolha não poderia ter sido pior, na tentativa de aplacar a fúria dos manifestantes - Omar Suleiman, chefe-negociador do Egito com Israel e principal agente da inteligência egípcia, 75 anos de idade e muitos de contatos com Tel-aviv e Jerusalém, além de quatro ataques cardíacos. Não se sabe de que modo esse velho apparatchik doente conseguiria enfrentar a fúria e a alegria de 80 milhões de egípcios que se vão livrando de Mubarak. Quando falei a alguns manifestantes ao meu lado sobre o tanque, da nomeação e posse de Suleiman, houve gargalhadas.
Os soldados que conduzem os tanques, em uniforme de combate, sorridentes e às vezes aplaudindo os passantes não fizeram qualquer esforço para apagar das laterais dos tanques os graffiti ali pintados com tinta spray. "Fora Mubarak! Caia fora, Mubarak!" e "Mubarak, seu governo acabou" aparecem grafitados em praticamente todos os tanques que se veem pelas ruas do Cairo. Sobre um dos tanques que circulavam pela Praça da Liberdade, vi um alto dirigente da Fraternidade Muçulmana, Mohamed Beltagi. Antes, andei ao lado de um comboio de tanques próximo de Garden City, subúrbio do Cairo, onde as multidões subiram aos tanques para oferecer laranjas aos soldados, aplaudindo-os como patriotas egípcios.
A nomeação ensandecida e sem sentido de um vice-presidente (o primeiro, em 30 anos, e nomeação que significa que Mubarak desistiu de nomear o filho para substituí-lo no poder) e a formação de um 'novo' Gabinete sem poder algum, constituído só de velhos conhecidos dos egípcios, evidenciam que as ruas do Cairo viram e veem o que nem os estrategistas e políticos dos EUA e da União Europeia souberam ver: que o tempo de Mubarak acabou.
As frágeis ameaças de Mubarak de que empregará repressão violenta em nome do bem estar dos egípcios - quando já se sabe que a sua própria polícia e suas milícias são responsáveis pelos ataques mais violentos dos últimos cinco dias - só geraram ainda mais fúria entre os manifestantes, vítimas de 30 anos de ditadura várias vezes muito violenta. Crescem as suspeitas de que os piores ataques da repressão foram executados por milícias não uniformizadas - inclusive o assassinato de 11 homens numa vila do interior do país nas últimas 24 horas -, tentativa de dividir o movimento e criar suspeitas contra as intenções democratizantes das manifestações contra o governo de Mubarak. A destruição dos centros de comunicações por grupos de homens mascarados - que se suspeita que tenha sido ordenada por alguma agência da segurança de Mubarak - também parece ter sido obra das milícias não uniformizadas que espancaram manifestantes.
Mas o incêndio de postos policiais no Cairo, Alexandria, Suez e outras cidades não foram obra daquelas milícias. No final da sexta-feira, a 40 milhas do Cairo, na estrada para Alexandria, havia grandes grupos de jovens em torno de fogueiras acesas no meio da estrada e, quando os carros paravam, eram assaltados; os assaltantes exigiam dólares, sempre muitos, em dinheiro. Ontem pela manhã, homens armados roubavam carros, de dentro dos quais arrancavam motoristas e passageiros, no centro do Cairo.
Infinitamente mais terrível foi o vandalismo contra o Museu Nacional do Egito. Depois que a polícia abandonou o serviço de segurança do museu, houve invasão de saqueadores e vândalos, que roubaram ou destruíram peças de 4 mil anos, múmias e peças de madeira esculpida de valor inestimável - barcos, esculpidos com todos os detalhes e a tripulação, miniaturas magníficas, feitas para acompanhar os faraós na viagem pós-morte. Vitrines que protegiam trajes milenares foram quebradas, os guardas pintados de preto arrancados e depredados. Outra vez, é preciso registrar que há boatos de que os próprios policiais destruíram o museu, antes de fugir na 6ª-feira à noite. Lembrança fantasmagórica do museu de Bagdá em 2003. Bagdá foi pior, a destruição foi mais total, mas mesmo assim foi terrível o desastre do museu do Cairo.
Em minha jornada noturna da cidade 6 de Outubro até a capital tive de diminuir a velocidade várias vezes, porque a estrada está cheia de restos de veículos queimados.
Havia destroços e vidros quebrados pela estrada, e muitos policiais armados, com rifles apontados para os faróis do meu carro. Vi um jipe semidestruído. Os restos do equipamento da polícia antitumulto que os manifestantes expulsaram da cidade do Cairo na sexta-feira. Os mesmos manifestantes que sábado, 29/01, formavam círculo gigantesco em torno da Praça da Liberdade para rezar. Gritos de "Allah Alakbar" trovejavam pela cidade no ar da noite.
Há também quem clame por vingança. Uma equipe de jornalistas da rede al-Jazeera encontrou 23 cadáveres em Alexandria, aparentemente assassinados pela polícia. Vários tinham os rostos horrivelmente mutilados. Outros onze cadáveres foram encontrados no Cairo, cercados por parentes que gritavam por vingança contra a polícia.
No momento, Cairo salta em minutos da alegria para a mais terrível fúria. Neste sábado, andei pela ponte do rio Nilo e vi as ruínas do prédio de 15 andares onde funcionava a sede do partido de Mubarak, que foi incendiado. À frente, um imenso cartaz pregava os benefícios que o partido trouxe ao Egito - imagens de estudantes formados bem sucedidos, médicos e pleno emprego, promessas que o governo de Mubarak sempre repetiu e jamais cumpriu em 30 anos - emoldurados pela fuligem, semiqueimados, pendentes das janelas enegrecidas do prédio. Milhares de egípcios andavam pela ponte e pelos acessos laterais para fotografar o prédio ainda fumegante - e muitos saqueadores, a maioria velhos, que tiravam de lá mesas e cadeiras.
No instante em que uma equipe de televisão escocesa preparava-se para filmar as mesmas cenas, foi cercada por várias pessoas que disseram que não tinham o direito de filmar os incêndios, que os egípcios são povo orgulhoso, que não roubaria nem saquearia. O assunto foi discutido várias vezes ao longo do dia: se a imprensa teria ou não o direito de divulgar imagens sobre essa "libertação", que veiculassem ideias menos dignas do movimento. Mesmo assim, os manifestantes mantinham-se cordiais e - apesar das declarações acovardadas de Obama, na sexta-feira à noite - não se viu nenhum nem qualquer mínimo sinal de hostilidade contra os EUA. "Tudo que queremos, tudo, exclusivamente, é que Mubarak se vá daqui, que haja eleições que nos devolvam a liberdade e a honra", disse-me uma psiquiatra de 30 anos. Por trás dela, multidões de jovens limpavam o leito da rua, removendo restos de veículos e barreiras postas nas intersecções e esquinas - releitura irônica do conhecido ditado egípcio, de que os egípcios nunca varrerão as próprias ruas.
A alegação de Mubarak, de que as atuais demonstrações e atos de delinqüência - a combinação foi tema do discurso em que Mubarak declarou que não deixaria o Egito - seriam parte de um "plano sinistro" é evidentemente o núcleo de seu argumento, na tentativa de não perder o reconhecimento mundial.
De fato, a própria resposta de Obama - sobre a necessidade de reformas e o fim da violência - foi cópia exata de todas as mentiras que Mubarak sempre usou para defender seu governo durante 30 anos. Os egípcios riram de Obama - inclusive no Cairo, depois de eleito - quando exigiu que os árabes abraçassem a liberdade e a democracia. Mas até essas aspirações sumiram completamente quando, na sexta-feira, Obama assegurou seu desconfortável e incomodado apoio ao presidente egípcio. O problema é o de sempre: as linhas do poder e as linhas da moralidade em Washington jamais convergem quando os presidentes dos EUA têm de lidar com o Oriente Médio. A liderança moral dos EUA cessa de existir quando há confronto declarado entre o mundo árabe e Israel.
E o exército egípcio, desnecessário lembrar, é parte da equação. Recebe de Washington mais de 1,3 bilhão de dólares de auxílio anual. O comandante desse exército, general Tantawi - que casualmente estava em Washington quando a polícia tentava esmagar os manifestantes - sempre foi muito amigo, pessoal, íntimo, de Mubarak. Não é bom sinal, parece, pelo menos no futuro imediato.
Assim, a "libertação" do Cairo - onde houve notícias, no final de semana, de saques no hospital Qasr al-Aini - ainda tem que andar, até a consumação. O fim pode ser claro. A tragédia ainda não acabou.
Roberto Fisk é jornalista e trabalha como correspondente internacional no Oriente Médio.
Publicado originalmente no The IndependentTradução: Vila Vodu
deputados do Paraná votam contra a redução de alunos por sala de aula
14/2/2011
Assembleia vota contra escola pública; não reduz alunos por sala
Base do governo Beto Richa vota contra projeto que limitava número de alunos por turma
Muitos dos deputados que votaram para que o Projeto de Lei nº. 486/2005, de autoria da deputada Luciana Rafagnin (PT), fosse transformado em lei, hoje (14/02) votaram contra a proposta que defendiam no passado. Na sessão ordinária da Assembleia Legislativa do Paraná, o painel eletrônico registrou que apenas 14 dos 54 deputados foram favoráveis a rediscussão deste PL que previa a implementação gradual do número de alunos por sala de aula nas escolas da rede pública estadual. A proposição da deputada já havia sido vetada em 2006 pelo então governador Roberto Requião.
O projeto da Luciana Rafagnin defendia o estabelecimento de até 20 alunos por sala nas turmas do Ensino Infantil e 1ª série do Ensino Fundamental, até 25 alunos nas turmas de 2ªs a 4ªs séries e até 30 nas turmas de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental. No Ensino Médio as salas deveriam comportar até 35 alunos. Nesta tarde, no plenário da Assembleia, a deputada pediu a derrubada do veto argumentando que o PL impede o inchaço nas salas de aula ao instituir a redução gradativa do número máximo de alunos por turma. "Muitos deputados votaram a favor desse projeto porque reconhecem os problemas das salas de aula. O excesso de alunos por turma dificulta a transmissão e conteúdo, a aprendizagem e implica na qualidade da educação. É impossível dar uma aula de qualidade com mais de 50 alunos na sala", frizou.
O projeto da Luciana Rafagnin defendia o estabelecimento de até 20 alunos por sala nas turmas do Ensino Infantil e 1ª série do Ensino Fundamental, até 25 alunos nas turmas de 2ªs a 4ªs séries e até 30 nas turmas de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental. No Ensino Médio as salas deveriam comportar até 35 alunos. Nesta tarde, no plenário da Assembleia, a deputada pediu a derrubada do veto argumentando que o PL impede o inchaço nas salas de aula ao instituir a redução gradativa do número máximo de alunos por turma. "Muitos deputados votaram a favor desse projeto porque reconhecem os problemas das salas de aula. O excesso de alunos por turma dificulta a transmissão e conteúdo, a aprendizagem e implica na qualidade da educação. É impossível dar uma aula de qualidade com mais de 50 alunos na sala", frizou.
O professor Lemos também fez considerações favoráveis ao projeto antes de o mesmo ir para votação. Ele relembrou o envolvimento dos parlamentares quando da criação do PL. "O projeto da deputada Luciana acolheu o desejo de milhares de professores do Estado e de milhares de estudantes. Debatemos o tema com a deputada e ela apresentou o mesmo subscrito por 27 deputados. E o projeto já foi aprovado por unanimidade nesta Casa", destacou.
O veto nº 23/06 do PL nº486/05 foi mantido porque apenas 14 dos 52 deputados que estiveram hoje presente na Assembleia Legislativa votaram "'Não" ao veto do ex-governador. Em 2006, o PL foi aprovado por unanimidade pelos deputados. No entanto, mesmo com os esclarecimentos sobre a importância e relevância desta proposta apenas os deputados André Bueno (PDT), Antonio Anibelli Neto (PMDB), Enio Verri (PT), Marla Tureck (PSC), Nelson Luersen (PDT), Edson Praczyk (PRB), Péricles de Mello (PT), Professor Lemos (PT), Rasca Rodrigues (PV), Tadeu Veneri (PT), Teruo Kato (PMDB), Toninho Wandscheer (PT), Waldyr Pugliesi (PMDB), além da própria deputada Luciana, foram favoráveis a melhorias na escola pública.
A votação foi acompanhada pela presidente da APP-Sindicato, Marlei Fernandes de Carvalho, e pelos secretários da entidade Luiz Carlos Paixão da Rocha( Imprensa), Janeslei Albuquerque (Educacional), José Ricardo Correa (Organização), Mariah Seni Vasconcelos (Geral) e Isabel Zolner (Formação Política Sindical).
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Idiotismo é igual a idiomatismo
Idiotismo e idiomatismo têm o mesmo significado e o mesmo elemento grego na composição:
idio-, de idios, que contém a ideia de próprio, particular, separado, distinto pessoal, privativo.
Dessa raiz formaram-se vocábulos como idioma, pelo latim idioma, derivado do grego idioma,
e idiotismo, derivado do grego idiotismos, gênero de vida e linguagem dos simples particulares,
linguagem corrente ou vulgar, pelo latim idiotismu-, expressão própria de determinado idioma, idiotismo.
Claro que o sentido de idiotismo não se deve confundir com o de idiotia, de idiota + ia, do grego idiótes, pelo latim idiota.
Na origem, indivíduo particular em oposição a homem que exercia função pública;
qualquer pessoa de condição modesta, simples cidadão.
Daí, homem sem educação, ignorante, vulgar; que tem ou denota falta de inteligência; estúpido, parvo, tolo.
Esse é o sentido corrente.
A acepção de incapaz mental é posterior e talvez se deva a influência semântica do francês,
diz José Pedro Machado em seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Livros Horizonte, Lisboa.
http://revistalingua.uol.com.br/revista.asp?edicao=Edição 60
idio-, de idios, que contém a ideia de próprio, particular, separado, distinto pessoal, privativo.
Dessa raiz formaram-se vocábulos como idioma, pelo latim idioma, derivado do grego idioma,
e idiotismo, derivado do grego idiotismos, gênero de vida e linguagem dos simples particulares,
linguagem corrente ou vulgar, pelo latim idiotismu-, expressão própria de determinado idioma, idiotismo.
Claro que o sentido de idiotismo não se deve confundir com o de idiotia, de idiota + ia, do grego idiótes, pelo latim idiota.
Na origem, indivíduo particular em oposição a homem que exercia função pública;
qualquer pessoa de condição modesta, simples cidadão.
Daí, homem sem educação, ignorante, vulgar; que tem ou denota falta de inteligência; estúpido, parvo, tolo.
Esse é o sentido corrente.
A acepção de incapaz mental é posterior e talvez se deva a influência semântica do francês,
diz José Pedro Machado em seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Livros Horizonte, Lisboa.
http://revistalingua.uol.com.br/revista.asp?edicao=Edição 60
Quando o corpo fala
ESTUDO MOSTRA QUE LINGUAGEM CORPORAL PODE REVELAR PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM
Alguns sinais bastante comuns em crianças e adolescentes em sala de aula - corpo curvado, bocejos e irritação nos olhos - podem ser sintomas de deficiência no aprendizado. É o que defende o educador L. Ron Hubbard em Manul Básico de Estudo (Ponte do Brasil, 2010).
Esse tipo de comportamento, muitas vezes associado ao tédio, pode ser sinal de problemas mais graves, ligados à diminuição da capacidade dos mais jovens de aprender durante as aulas.
Na obra, Hubbard (morreu em 1986) explica como descobrir esses sintomas e tratá-los. Para o especialista, as crianças apresentam três barreiras ao estudo: elas se ressentam da falta de algo concreto; dos saltos entre as etapas do aprendizado; e da baixa compreensão das palavras.
http://revistalingua.uol.com.br/revista.asp?edicao=Edição 60
Alguns sinais bastante comuns em crianças e adolescentes em sala de aula - corpo curvado, bocejos e irritação nos olhos - podem ser sintomas de deficiência no aprendizado. É o que defende o educador L. Ron Hubbard em Manul Básico de Estudo (Ponte do Brasil, 2010).
Esse tipo de comportamento, muitas vezes associado ao tédio, pode ser sinal de problemas mais graves, ligados à diminuição da capacidade dos mais jovens de aprender durante as aulas.
Na obra, Hubbard (morreu em 1986) explica como descobrir esses sintomas e tratá-los. Para o especialista, as crianças apresentam três barreiras ao estudo: elas se ressentam da falta de algo concreto; dos saltos entre as etapas do aprendizado; e da baixa compreensão das palavras.
http://revistalingua.uol.com.br/revista.asp?edicao=Edição 60
sábado, 25 de dezembro de 2010
FELIZ NATAL
FELIZ NATAL A TODOS E A TODAS!
E QUE POSSAMOS TER DIAS MELHORES EM 2011
QUE POSSAMOS COLHER FRUTOS MAIS CONSISTENTES
NO CHÃO DA ESCOLA.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Analfabetismo: O Brasil Tem 14.104.984 analfabetos
Analfabetismo cai no Brasil, mas aumenta em cinco estados, diz Ipea
Queda no número absoluto foi de 7% em todo o país.
Levantamento com dados da Pnad foi divulgado nesta quinta-feira (9).
Levantamento com dados da Pnad foi divulgado nesta quinta-feira (9).
Estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado nesta quinta-feira (9) aponta que o número absoluto de analfabetos brasileiros com 15 anos ou mais caiu 7% entre os anos de 2004 e 2009. No entanto, no mesmo período cinco estados registraram aumento deste contingente. Hoje, o Brasil tem 14.104.984 de analfabetos.
O levantamento foi feito com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
Em números absolutos, a redução de analfabetos corresponde a pouco mais de um milhão de pessoas em todas as regiões do país. Em termos relativos, a taxa de analfabetismo passou de 11,5% para 9,7%.
Os cinco estados que tiveram crescimento no número absoluto de analfabetos foram Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Santa Catarina, Rondônia e Acre.
A região Centro-Oeste apresentou a menor queda do número absoluto de analfabetos (1,6%), uma vez que os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul tiveram aumento deste contingente.
A redução do número de analfabetos da região Sul ficou abaixo da média nacional (7,3%), devido ao aumento ocorrido em Santa Catarina (14%).
Os dados mais positivos vêm das regiões Norte e Nordeste, que registraram as maiores quedas nas taxas. O Nordeste reduziu 16,6% a taxa de analfabetismo e todos os estados da região tiveram queda em termos absolutos e relativos.
No Norte, a taxa de analfabetismo teve redução de 17%. O destaque foi o Amapá, onde o índice caiu 66%. A taxa de analfabetismo neste estado passou a ser a mais baixa do Brasil: 2,8%.
Na região Sudeste, a redução do contingente de analfabetos foi ligeiramente menor que a média nacional (6,6). Apenas o Rio de Janeiro registrou índice favorável (12,3%).
Confira as taxas de analfabetismo da população de 15 a 64 anos, segundo dados da Pnad:
Região | Taxa de analfabetismo em 2009 | |||
Nordeste | 15,0% | |||
Norte | 8,1% | |||
Centro-Oeste | 5,5% | |||
Sul | 3,7% | |||
Sudeste | 3,7% | |||
Estado | Taxa de analfabetismo em 2009 | Estado | Taxa de analfabetismo em 2009 | |
Alagoas | 20,8% | Mato Grosso do Sul | 6,2% | |
Piauí | 19,2% | Espírito Santo | 6,0% | |
Paraíba | 18,0% | Minas Gerais | 5,7% | |
Maranhão | 14,9% | Goiás | 5,6% | |
Ceará | 14,9% | Roraima | 5,0% | |
Rio Grande do Norte | 14,7% | Amazonas | 5,0% | |
Pernambuco | 14,2% | Paraná | 4,6% | |
Sergipe | 14,1% | Santa Catarina | 3,3% | |
Bahia | 13,0% | Rio Grande do Sul | 3,1% | |
Acre | 12,7% | São Paulo | 3,0% | |
Pará | 9,8% | Rio de Janeiro | 2,8% | |
Tocantins | 9,2% | Distrito Federal | 2,5% | |
Rondônia | 7,5% | Amapá | 1,5% | |
Mato Grosso | 7,3% | |||
Idosos
O maior número de analfabetos brasileiros tem 65 anos ou mais. A taxa de 34,4% caiu para 30,8%, entre os anos de 2004 e 2009. Segundo o Ipea, apesar da queda, houve um aumento em número absolutos da ordem de 490 mil analfabetos.
O maior número de analfabetos brasileiros tem 65 anos ou mais. A taxa de 34,4% caiu para 30,8%, entre os anos de 2004 e 2009. Segundo o Ipea, apesar da queda, houve um aumento em número absolutos da ordem de 490 mil analfabetos.
A pesquisa ainda revela que o índice de analfabetismo é maior entre os moradores das áreas rurais (23%) do que na das urbanas (7%). Há diferença também dos níveis de analfabetismo entre brancos (5,9%) e negros (13,4%).
Outro fator que evidencia as disparidades é a renda. O estudo do Ipea aponta que o analfabetismo entre pessoas que estão na faixa de renda familiar per capita maior que três e menor que cinco salários mínimos é cerca de 20 vezes menor que as pertencentes à faixa de até um quarto de salário mínimo.
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Secretaria Executiva do Fórum Paranaense de EJA.
Mensagem de Fidel aos estudantes
MENSAGEM DE FIDEL AOS ESTUDANTES
17 de Novembro de 2010
Caros estudantes universitários e demais convidados:
Apraz-me imenso a presença nesta reunião do Ministro do ensino superior, dos Reitores das universidades de Havana, de uma representação da União de Jovens Comunistas, presidida por sua Primeira-Secretária, da Direção Provincial e Nacional da Federação de Estudantes do Ensino Médio.
Lembro-me daquele 17 de novembro de 2005. Comemorava-se o Dia Internacional do Estudante. Vocês os universitários decidiram que eu falasse nesse dia. Completavam-se, disseram-me, 60 anos de meu ingresso na Universidade, finalizando o ano 1945. Nessa altura era um bocado mais jovem do que hoje; tinha a idade de vocês. Mas juntos temos vivido uma etapa da vida.
Na minha opinião, aquela reunião que tivemos na Universidade de Havana, há cinco anos, jamais se repetiria. Já tinha 79 anos. Porém há apenas dois meses, para ser mais exato, quando apresentei na Aula Magna o segundo livro de nossa guerra revolucionária: “A contra-ofensiva estratégica”, em 10 de setembro de 2010, ao finalizar, conversei com muitos veteranos daquelas lutas e quando saia do recinto cumprimentei um entusiasta grupo de dirigentes estudantis universitários que ficaram à minha espera, conversei com eles, explicaram-me sua ansiosa espera do dia 17 para que lhes falara do discurso.
Gostei daquele grupo. Não promoviam uma “revolução cultural”, queriam escutar novamente uma reflexão sobre as idéias expostas naquele dia.
Esse encontro já lhes pertencia. Era da opinião que transcorreria muito tempo entre o dia 10 de setembro e o 17 de novembro; outras coisas passavam por minha mente e lhes respondi: “ver-nos-emos nesse dia”.
Contudo sabia que aquele discurso provocou mal-estar, devido ao momento que estávamos a viver perante um poderoso inimigo que nos ameaçava cada vez mais, bloqueava cruelmente nossa economia e esforçava-se por espalhar o descontento, promovendo a violação das leis e as saídas ilegais do país, privando-o de uma reserva de força de trabalho jovem, cultural e tecnicamente bem preparada. Muitos deles eram levados mais tarde à realizar atividades ilícitas e a delinqüir.
Também estava o fato de minha tendência à autocrítica e à ironia com relação a nossas próprias ações. Apesar de ser cáustico em minhas palavras, defendi princípios e não fiz concessões.
Lembrava tudo isso, mas não as palavras exatas que usei, a totalidade dos argumentos expressados, e a considerável extensão do discurso.
Solicitei aos arquivos do Conselho de Estado uma cópia textual do mesmo, e deparei com 115 páginas em espaço simples que implica mais de 200 como estas que apenas excedem as 40.
Durante as últimas semanas o trabalho tem sido intenso, dedicado a muitas tarefas; entre elas, reuniões de entrevistas com o diretor principal da web site Global Research, Michel Chossudovsky; a esmagadora vitória eleitoral da extrema-direita dos Estados Unidos e, dentro dela, a do grupo fascista do Tea Party, a crise econômica sem precedentes; guerra de divisas, acompanhada de perto pela Cúpula do G-20 em Seúl; a Cúpula da APEC em Yokohama, Japão e daqui a dois dias, a Cúpula da NATO em Portugal nos dias 19 e 20 de novembro, que devemos acompanhar de perto.
Apesar disso, não me resignava a prorrogar ou suspender a data de nosso encontro.
Apoiado no texto original, fui pinçando as idéias principais do discurso que proferi naquela ocasião, para apresentá-las com as mesmas palavras que utilizei nesse momento. Omiti, visando ser breve, numerosos exemplos que complementavam os critérios que sustentava.
Confesso que fiquei surpreendido com a atualidade das idéias expostas que, transcorridos cinco anos, são mais atuais do que naquele momento, visto que muitas tinham relação com o futuro, e os fatos se desenvolveram tal como foram previstos; acontece que hoje, com os conhecimentos disponíveis sobre fenômenos como a mudança climática, a crise econômica que ultrapassa qualquer outra anterior, os perigos de guerra e a derivação do poder imperial para o fascismo, exigem dos jovens universitários um máximo de consagração e esforço na batalha ideológica.
Uma das primeiras idéias que expressei foi a seguinte:
“Os fatores que fizeram possível a vida no planeta Terra surgiram após bilhões de anos, essa vida frágil que pode transcorrer entre uns poucos graus por baixo de zero e uns poucos graus por cima de zero...”
Eu tentava recordar como eram aquelas universidades, a que nos dedicávamos, que nos preocupava. Nos preocupávamos com esta pequena ilha. [...] Ainda não se falava de globalização, não existia a televisão, não existia a Internet, não existiam as comunicações instantâneas de um extremo ao outro do planeta [...] Nos meus tempos, 1945, nossos aviões de passageiros apenas chegavam a Miami...”
“... acabava de acontecer uma terrível guerra, que custou por volta de 50 milhões de vidas, e falo do momento aquele, 1945, quando ingressei na universidade, em 4 de setembro; bom, ingressei nessa época, e vocês, logicamente, decidiram celebrar aquele aniversário num dia qualquer.“
Mais para frente perguntei: Que mundo é esse onde um império bárbaro proclama o direito de atacar por surpresa e de maneira preventiva 60 ou mais países, que é capaz de levar a morte a qualquer canto do mundo, utilizando as mais sofisticadas armas e técnicas de morte?
“Atualmente o império ameaça com atacar o Irã se produz combustível nuclear.”
“Atualmente se debate a nível internacional quais o dia e a hora, ou se será o império, ou utilizará — como fez no Iraque — o satélite israelense para o bombardeio preventivo e imprevisto de centros de pesquisa cujo objetivo é obter a tecnologia de produção do combustível nuclear.”
“... aquela nação exige seu direito a produzir combustível nuclear como qualquer outra nação entre as industrializadas e não ser obrigada a destruir a reserva de uma matéria prima, que serve não só como fonte energética, mas também como fonte de numerosos produtos, fonte de fertilizantes, fonte de têxteis, fonte de inúmeros materiais que hoje têm um uso universal.”
“... veremos que aconteceria se bombardeassem o Irã com o objetivo de destruir qualquer instalação que se dedique à produção de combustível nuclear.”
“Nós jamais pensamos na fabricação de armas nucleares. Nós temos outro tipo de armas nucleares, são nossas idéias [...] armas do poder das nucleares em virtude do poder invencível das armas morais, [...] e também não procurar armas biológicas [...] Armas para combater a morte, para combater a Aids, para combater as doenças, para combater o câncer, a isso dedicamos nossos recursos...”
“... em qualquer parte do mundo encontra-se um cárcere secreto onde torturam os defensores dos direitos humanos; são os mesmos que em Genebra, como cordeirinhos, votam, um a um, contra Cuba, o país que não conhece a tortura, para honra e glória desta geração, para honra e glória desta Revolução, para honra e glória de uma luta pela justiça, pela independência, pelo decoro humano que deve manter incólume sua pureza e sua dignidade!”
hoje de manhã chegavam notícias informando sobre o uso de fósforo vivo em Al-Fallüjah, ali onde o império descobriu que um povo, praticamente desarmado, não podia ser vencido e os invasores viram-se numa situação onde não podiam ir embora nem ficar: se iam embora, voltavam os combatentes; se ficavam, necessitavam essas tropas noutros lugares. Já morreram mais de 2 000 jovens soldados norte-americanos, e alguns se perguntam, até quando continuaram morrendo numa guerra injusta?...
“... converteram a entrada ao exército numa fonte de emprego, contratam desempregados, e muitas vezes tentam contratar o maior número de negros norte-americanos para suas guerras injustas, e chegam notícias de que cada vez menos negros norte-americanos estão dispostos a se inscreverem no exército, apesar do desemprego e da marginalização a que são submetidos...”
“Procuram latinos, imigrantes que, tentando escapar da fome, atravessaram a fronteira, essa fronteira onde todos os anos morrem mais de 500 imigrantes, muitos mais em 12 meses que os que morreram durante os 28 anos que durou o muro de Berlim.”
“... entravam os jovens nesta universidade, que não era, certamente, a universidade dos humildes; era a universidade da classe média, a universidade dos ricos do país, mas os jovens não se importavam com as idéias de sua classe e muitos deles eram capazes de lutar, e assim o fizeram ao longo da história de Cuba.
“Oito estudantes foram fuzilados em 1871 e foram o alicerce dos mais nobres sentimentos e do espírito de rebeldia de nosso povo...”
“Mella foi um deles, também pertencente à classe média; porque os das classes mais pobres, os filhos dos camponeses, não sabiam ler nem escrever...”
“... mencionei Mella, poderia mencionar Guiteras, poderia mencionar Trejo, que morreu [...] um 30 de setembro, na luta contra Machado;
“... quando a tirania batistiana voltou com todo seu rigor, muitos estudantes lutaram e muitos estudantes morreram, e aquele jovem de Cárdenas, Manzanita, como lhe chamavam, sempre rindo, sempre amável, sempre carinhoso com os demais, se destacava pela sua valentia, sua integridade [...]quando enfrentava a polícia.”
Se você visita a casa onde viveu Echeverría — José Antonio, vamos chamá-lo assim —, percebe que é uma casa boa, uma excelente casa. Vejam só como os estudantes não se importavam com sua origem social, nessa idade de tanta esperança, de tantos sonhos.
Naquela universidade, para estudar medicina havia apenas uma faculdade e um só hospital docente, e muitos ganhavam prêmios, primeiro prêmio em medicina e alguns, inclusive, de cirurgia sem terem operado nunca a ninguém.
“Alguns o conseguiam [...] Assim surgiram bons médicos, não uma massa de bons médicos — sim havia uma massa [...] que não tinham emprego, e quando triunfou a Revolução, foram precisamente para os Estados Unidos, e ficou a metade 3 000 e 25% dos professores. E daí partimos para o país de hoje, que se ergue já quase como capital da medicina mundial.
“... o país [...] já tem mais de 70 000 médicos.”
“Nós ingressamos na universidade finalizando o ano 1945, e iniciamos nossa luta armada no quartel Moncada em 26 de julho de 1953, [...] quase oito anos depois, e a Revolução triunfa cinco anos, cinco dias e cinco meses após o Moncada, e depois de um longo percurso pelos cárceres, pelo exílio, e pela luta nas montanhas. ”
“... não conhecíamos nem sequer muito bem as leis de gravidade, íamos encosta acima lutando contra o império, já que era o mais poderoso, [...] quando ainda existia outra superpotência, [...] foi marchando encosta acima que ganhamos experiência, que nosso povo e nossa Revolução se fortaleceram até chegar aqui.”
“... o ser humano é o único capaz, [...] de passar por cima de todos os instintos, [...] a natureza lhe impõe os instintos, a educação impõe as virtudes...”
“...apesar da diferença entre os seres humanos, possam ser um numa dada altura ou [...] ser milhões através das idéias.”
São as idéias as que nos unem, são as idéias as que nos fazem um povo combatente, são as idéias as que nos fazem já não só individualmente, mas sim coletivamente revolucionários, e é então [...] quando um povo jamais pode ser vencido...”
“... aqui a 90 milhas do colossal império, o mais poderoso que existiu jamais ao longo da história, e passaram 46 anos e lá está mais distante que nunca conseguir fazer ajoelhar a nação cubana, aquela que ofenderam e humilharam durante algum tempo...”
“Acho que foi (Ignácio) Agramonte, outros dizem que (Carlos Manuel de) Céspedes, quem, respondendo aos pessimistas quando ficou com 12 homens, exclamou: [...] com 12 homens se faz um povo [...] isso que se chama uma consciência revolucionária, que é a soma de muitas consciências [...] É filha do amor à Pátria e de amor ao mundo, não esquece aquilo de que Pátria é humanidade, proferido há mais de 100 anos.”
“Não esquecer jamais aqueles que durante anos foram nossa classe operária e trabalhadora, que viveram as décadas de sacrifício, os bandos mercenários nas montanhas, as invasões como a da Baía dos Porcos, os milhares de atos de sabotagens que custaram vidas de nossos trabalhadores açucareiros, da cana-de-açúcar, industriais, do comércio ou na marinha mercante, ou na pesca, os que de repente eram atacados com canhões e bazucas, só porque éramos cubanos, só porque queríamos a independência, só porque queríamos melhorar a sorte de nosso povo...”
“Cuba fala quando tenha que falar e Cuba tem muitas coisas que dizer, mas não está com pressa nem impaciente. Sabe muito bem quando, onde e como pode desferir um golpe ao império, a seu sistema e a seus lacaios.”
“... acho que esta humanidade e as grandes coisas que é capaz de criar, devem ser preservadas enquanto possam ser preservadas.”
“... este admirável e maravilhoso povo, ontem semente e hoje árvore crescida e com raízes profundas; ontem cheio de nobreza em potência e hoje cheio de nobreza real; ontem cheio de conhecimentos em seus sonhos e hoje cheio de conhecimentos reais, quando apenas está começando nesta gigantesca universidade que é hoje Cuba.”
“... vão surgindo novos quadros e quadros jovens.”
“Como vocês sabem, estamos em meio de uma batalha contra os vícios, contra os desvios de recursos, contra o roubo...”
“... não pensem que o roubo de recursos e de materiais é de hoje, ou do 'período especial', o 'período especial' agravou isso, porque o 'período especial' criou muitas desigualdades e o 'período especial' tornou possível que muitas pessoas tivessem muito dinheiro.”
“Do tempo que estou falando, para produzir uma tonelada de betão, se consumiam 800 quilos de cimento e uma tonelada de um bom betão [...] deve ser de mais ou menos 200 quilos. Vejam como se esbanjava, vejam como se desviavam recursos, como se roubava.”
“Nesta batalha contra os vícios não haverá trégua [...] e nós apelaremos à honra de cada setor. Estamos certos de uma coisa: de que em cada pessoa há uma alta dose de vergonha. Quando ela fica pensando não é um juiz severo, apesar de que, segundo minha opinião, o primeiro dever de um revolucionário é ser sumamente severo consigo próprio.”
“Crítica e autocrítica, é muito correto, isso não existia; mas não, se vamos travar a batalha devemos usar projéteis de maior calibre, é preciso utilizar a crítica e a autocrítica na sala da aula, na organização de base do Partido, e depois fora dela, depois no município e depois no país.”
“Posteriormente poderão surgir outras perguntas: Quanto ganhamos? Caso surgir a pergunta de quanto ganhamos, começaria a compreender-se o sonho de cada quem viva de seu salário ou de sua justíssima aposentadoria.”
“... temos ganhado consciência e que a vida toda é um aprendizado, até o último segundo, e começas a ver muitas coisas num momento...”
“Uma conclusão que tirei após muitos anos: entre muitos erros que todos temos cometido, o erro mais importante foi acreditar que alguém sabia de socialismo, ou que alguém sabia como se constrói o socialismo. Parecia ciência sabida, tão sabida como o sistema elétrico concebido por alguns que se consideravam peritos em sistemas elétricos. [...] seriamos estúpidos se acreditarmos, por exemplo, que a economia –e que me perdoem as dezenas de milhares de economistas que há no país- é uma ciência exata e eterna, e que existiu desde a época de Adão e Eva.
“Perde-se todo o senso dialético quando alguém acredita que essa mesma economia de hoje é igual a aquela de 50 anos atrás, ou 100 anos, ou há 150 anos, ou é igual à época de Lênin ou à época de Carlos Marx. A mil léguas de meu pensamento o revisionismo, faço um verdadeiro culto a Marx, a Engels e a Lênin.”
Quando estudante soube teoricamente o que era comunismo utópico, descobri que eu era um comunista utópico, porque todas minhas idéias partiam de: “Isto não é bom, isto é mau, isto é um erro. Como vão surgir as crises de superprodução e a fome quando há precisamente, mais capacidade de criar riquezas. Não seria mais simples produzi-las e reparti-las ?
Naquela altura parecia, como também achava Carlos Marx na época do Programa de Gotha, que o limite à abundancia radicava no sistema social; parecia que na medida em que se desenvolviam as forças produtivas podiam produzir, quase sem limites, o que o ser humano precisava para satisfazer suas necessidades essenciais de tipo material, cultural, etc.
“Quando escreveu livros políticos, como O 18 Brumário, As lutas Civis na França, era um gênio escrevendo, tinha uma interpretação claríssima. Seu Manifesto Comunista é uma obra clássica. Você pode analisá-la, pode ficar mais o menos satisfeito com umas coisas ou com outras. Eu passei do comunismo utópico para um comunismo baseado em teorias serias do desenvolvimento social...”
“Neste mundo real, que deve ser mudado, todo estratega e táctico revolucionário, tem o dever de conceber uma estratégia e uma estratégia que guiem ao objetivo fundamental de cambiar este mundo real. Nenhuma tática ou estratégia que divida seria boa.
“Tive o privilégio de conhecer aos da Teologia da Libertação uma vez no Chile, quando visitei a Allende no ano 1971, e lá encontrei muitos padres ou representantes de diversas denominações religiosas, e colocavam a idéia de juntar forças e lutar, sem levar em conta suas crenças religiosas.
“O mundo está precisando desesperadamente de uma unidade, Sé não conseguirmos conciliar o mínimo dessa unidade, não chegaremos a lugar nenhum.
“Lênine, sobre tudo estudou as questões do Estado; Marx não falava da aliança operário-camponesa, morava num país com grande auge industrial; Lênine viu o mundo subdesenvolvido, viu aquele país onde 80% ou 90% era camponês, e embora tivesse uma força operária poderosa nas ferrovias e nalgumas industrias, Lênine viu com absoluta clareza a necessidade da aliança operária-camponesa, da qual ninguém tinha falado, todos tinham filosofado, mas não tinham falado ao respeito. E num enorme país semi-feudal, semi-subdesenvolvido, é onde se produz a primeira revolução socialista, a primeira tentativa verdadeira de uma sociedade igualitária e justa; nenhuma das precedentes que foram escravistas, feudais, medievais, ou anti-feudais, burguesas, capitalistas, embora falassem muito em liberdade, igualdade e fraternidade, nenhum se propôs jamais uma sociedade justa.
“Ao longo da história, o primeiro esforço humano sério tentando criar a primeira sociedade justa, começou há menos de 200 anos...”
“Com dogmatismo jamais se tivesse chegado a uma estratégia. Lênine nos ensinou muito, porque Marx nos ensinou a compreender a sociedade; Lênine nos ensinou a compreender o Estado e o papel do Estado.”
“... quando a URSS se derrubou e ficou sozinha, muita gente, entre elas nós, os revolucionários cubanos. Mas nós sabíamos o que devíamos fazer, e o que tínhamos de fazer, quais eram nossas opções. Também estava o resto dos movimentos revolucionários em muitas partes travando sua luta. Não direi quais, não vou dizer quem; mas se tratava de movimentos revolucionários muito sérios, nos perguntaram se negociavam ou não perante aquela situação desesperada, se continuavam lutando ou não, ou se negociavam com as forças contrárias procurando uma paz, quando nós sabíamos a que conduzia aquela paz.”
“... Eu lhes dizia: “Vocês não nos podem pedir nossa opinião, são vocês os que iriam a lutar, são vocês os que morreriam, não somos nós. Nós sabemos o que faremos, e o que estamos dispostos a fazer; mas isso só pode ser decidido por vocês.”. Ai estava a mais extrema manifestação de respeito ao resto dos movimentos e não a tentativa de impor baseados nos nossos conhecimentos e experiências e o enorme respeito que sentiam por nossa Revolução para saber o peso de nossos pontos de vista.”
“Acho que a experiência do primeiro Estado Socialista, Estado que deveu compor-se e jamais destruir-se, tem sido muito amarga. Não pensem que não temos pensado é muitas ocasiões nesse fenômeno incrível mediante o qual uma das mais poderosas potências do mundo, que conseguiu equiparar sua força com a outra superpotência, um país que pagou com a vida de mais de 20 milhões de cidadãos a luta contra o fascismo, um país que esmagou ao fascismo, desabou como se desabou.
“Será que as Revoluções estão chamadas a se derrubarem, ou será que os homem podem fazer com que as revoluções se derrubem?. Os homens podem ou não impedir, a sociedade pode ou não pode impedir que as revoluções se derrubem?. Até poderia acrescentar-lhes uma pergunta imediatamente. Acham que este processo revolucionário, socialista, pode ou não derrubar-se? (Exclamações de: “Não!”) Pensaram nisso alguma vez? Pensaram-no com profundeza?
“Sabiam de todas estas desigualdades que estou falando? Conheciam certos hábitos generalizados? Sabiam que alguns ganhavam no mês quarenta ou cinqüenta vezes o que ganha um desses médicos que está lá nas montanhas da Guatemala, membro do contingente “Henry Reeve”? Pode estar noutros lugares distantes da África. Pode até estar a milhares de metros de altura, nas cordilheiras do Himalaia salvando vidas e ganha 5%, 10% do que ganha um ladrão destes que vende gasolina aos novos ricos, que desvia recursos dos portos em caminhões e por toneladas, que rouba nas lojas de divisa, que rouba num hotel cinco estrelas, talvez trocando a garrafa de rum por outra que procurou, a põe no lugar da outra e arrecada todas as divisas com as que vendeu os goles que podem sair da garrafa de um tipo de rum mais ou menos bom.”
“Também se pode explicar por que hoje já não talhamos mais a cana, não há quem a corte e as pesadas máquinas destroem os canaviais. Os abusos do mundo desenvolvido e os subsídios levaram os preços do açúcar que foram, naquele mercado mundial, o preço do lixeiro de açúcar, enquanto que em Europa pagavam duas ou três vezes mais a seus agricultores.”
“Eles estão aguardando um fenômeno natural e absolutamente lógico, que é o falecimento de alguém. Neste caso me honraram consideravelmente ao pensar em mim. Será uma confissão do que não conseguiram fazer desde há muito tempo. Se eu fosse um vaidoso, poderia ficar orgulhoso de que aqueles caras digam que têm que aguardar até que eu morra, e esse é o momento. Aguardar que morra, todos os dias inventam alguma coisa, que sim Castro tem isto que se tem o outro, se tal o mais qual enfermidade. ”
“Sim, eu tive uma queda muito grande, ainda estou reabilitando-me deste braço (assinala), e vai melhorando. Agradeço muitíssimo as circunstancias em que se quebrou meu braço, porque me obrigou a ter ainda mais disciplina, mais trabalho, a dedicar mais tempo, a dedicar quase as 24 horas do dia a meu trabalho, se já eu estava dedicando-as durante o período especial, agora dedico cada segundo e luto mais do que nunca...”
”Esse caso é como aquele do cara (fazia referência à revista Forbes)que descobriu que eu era o homem mais rico do mundo.”
“Eu fiz uma pergunta para vocês, companheiros estudantes, que não esqueci, nem sequer, e pretendo que vocês não a esqueçam nunca, e é a pergunta que faço diante das experiências históricas conhecidas e peço-lhes a todos, sem exceção, que reflitam: Pode ser ou não irreversível um processo revolucionário? Quais seriam as idéias ou o grau de consciência que tornariam impossível a reversão de um processo revolucionário?”
“O poder que tem uma liderança quando goza da confiança do povo, quando confiam na sua capacidade. São terríveis as conseqüências de um erro daqueles que têm maior autoridade, e isso aconteceu em mais de uma ocasião nos processos revolucionários.
“São coisas que a gente medita. Estuda a história, o quê aconteceu aqui, o quê aconteceu lá, o quê aconteceu lá, medita sobre o que aconteceu hoje e sobre o quê acontecerá amanhã, para onde conduzem os processos de cada país, para onde vai o nosso, como marchará o nosso, que papel desempenhará Cuba nesse processo.”
“Foi por essa razão que eu disse aquela palavra de que um dos nossos maiores erros no começo, e muitas vezes ao longo da Revolução, foi acreditar que alguém sabia como se construía o socialismo.”
“Qual sociedade seria esta, ou que digna de alegria quando nos reunimos em um lugar como este, um dia como este, se não soubéssemos o mínimo do que se deve saber para que nesta ilha histórica, este povo heróico, este povo que escreveu páginas não escritas por nenhum outro povo na história da humanidade preserve a Revolução? Vocês não pensem que quem lhes fala é um vaidoso, um charlatão, alguém que gosta do bluff. Transcorreram 46 anos e a história deste país é conhecida, os habitantes deste país a conhecem; a daquele império vizinho também, o seu tamanho, seu poder, sua força, sua riqueza, sua tecnologia, seu domínio sobre o Banco Mundial, seu domínio sobre o Fundo Monetário, seu domínio sobre as finanças mundiais, esse país que tem-nos imposto o mais brutal e incrível bloqueio, sobre o qual se falou lá nas Nações Unidas e Cuba recebeu o apóio de 182 países que passaram e votaram livremente ultrapassando os riscos de votar abertamente contra esse império. [...] Não apenas fizemos esta Revolução com o nosso próprio risco durante muitos anos, em determinado momento, tínhamos a certeza de que jamais se fossemos atacados direitamente pelos Estados Unidos lutariam por nós, nem podíamos pedi-lo.” Fazia referência à URSS.
“Com o desenvolvimento das tecnologias modernas era ingênuo pensar ou pedir ou esperar que aquela potência lutara contra a outra, se intervinha nesta pequena ilha que está aqui a 90 milhas, e tivemos a certeza total de que nunca receberíamos esse apóio. Ainda mais: um dia lhes perguntamos isso direitamente vários anos antes do seu desaparecimento: ‘Digam-no-lo francamente’ ‘Não.’ Responderam o que já sabíamos que íamos a responder, e então, mais do que nunca, aceleramos o desenvolvimento da nossa concepção e aperfeiçoamos as idéias tácticas e estratégicas com as que triunfou esta Revolução e venceu, com uma força que inicia a sua luta com sete homens armados contra um inimigo que dispunha 80 000 homens entre marinheiros, soldados, policiais, etc, tanques, aviões, todo tipo de armas modernas que naquela época podia-se possuir, era infinita a diferença entre nossas armas e as armas que tinha aquela força armada treinada pelos Estados Unidos, apoiada pelos Estados Unidos e fornecida pelos Estados Unidos.”
“Hoje temos muito mais do que sete fuzis, temos todo um povo que aprendeu a utilizar as armas, todo um povo que, apesar de nossos erros, tem tal nível de cultura, de conhecimento e de consciência que nunca permitiria que este país se tornasse novamente em uma colônia deles.
“Este país pode autodestruir-se a si mesmo; esta Revolução pode destruir-se, são eles os que hoje não podem destruí-la; nós sim, nós podemos destruí-la e seria a nossa culpa.
“Tenho o privilégio de viver muitos anos, isso não é um mérito, mas é uma excepcional oportunidade para dizer-lhes a vocês, a todos os líderes da juventude, a todos os líderes das organizações de massa, a todos os líderes do movimento operário, dos Comitês de Defesa da Revolução, das mulheres, dos camponeses, dos combatentes da Revolução organizados em todas as partes, lutadores durante anos que em cifra de centenas de milhar cumpriram gloriosas missões internacionalistas..”
“... é impressionante ver os mais humildes setores sociais deste país convertidos em 28 000 trabalhadores sociais e centenas de milhar de estudantes universitários, universitários! Vejam que força! E em breve veremos também em ação a aqueles que formamos há pouco tempo na cidade esportiva.
“A cidade esportiva nos ensina sobre o marxismo-leninismo; ensina-nos sobre as classes sociais; a cidade esportiva reuniu há pouco tempo aproximadamente a 15 000 médicos e estudantes de medicina e a alguns da ELAM, e outros que vieram inclusive de Timor Leste para estudar medicina, nunca poderá se esquecer. Não acredito que se trate de um sentimento pessoal de qualquer de nós.
“Nunca esta sociedade esquecerá essas imagens das 15 000 batas brancas que ali se reuniram no dia em que se formaram os estudantes de medicina, no dia em que foi criado o contingente “Henry Reeve”, que já em um número considerável enviou suas forças para os lugares onde aconteceram fenômenos excepcionais em um tempo muito mais breve do que imaginávamos.
“Permitam-me dizer-lhes que hoje praticamente o capital humano é, ou avança aceleradamente para tornar-se o mais importante recurso do país, ultrapassando inclusive a o resto todos juntos. Não estou exagerando.”
“Por ai descobrimos postos de gasolina privados, alimentados com o combustível dos motoristas destes caminhões-cisterna.
“Algo que é conhecido é que muitos dos caminhões do Estado vão por um lado ou por outro e sempre alguém aproveita a ocasião para visitar um parente, um amigo, uma família ou a namorada.
“Lembro aquela vez, há vários anos antes do chamado período especial que vi rápido pela Quinta Avenida uma suntuosa carregadeira frontal Volvo quase acabado de comprar, que naquela época custavam 50 000 ou 60 000 dólares. Senti curiosidade de saber para onde é que ia a aquela velocidade e pedi ao escolta: “Espera, pergunta-lhe para onde vai, que te fale francamente.” E confessou que ia visitar à namorada com aquele Volvo, que corria a toda velocidade pela Quinta Avenida.
“Vereis coisas, Mio Cid – dizem que alguém disse lá, seria Cervantes-, que farão falar às pedras.
“... coisas como essas aconteceram. E, geralmente, o sabemos tudo, e muitos disseram: “A Revolução não pode; não, isto é impossível; não, ninguém pode solucionar isto.” Sim, isto vai solucioná-lo o povo, isto vai solucioná-lo a Revolução e de que maneira. É apenas uma questão de ética? Sim, é, antes de mais, uma questão de ética; mas, além disso, é uma questão econômica vital.
“Este é um dos povos mais esbanjadores de energia combustível do mundo. Aqui ficou demonstrado, e vocês com toda a honradez o disseram, e é muito importante. Ninguém sabe quanto custa a eletricidade, ninguém sabe quanto custa a gasolina, ninguém sabe o valor que tem no mercado. Ia dizer-lhes que é muito triste quando uma tonelada de petróleo pode custar 400 e de gasolina 500, 600, 700 e por vezes chegou a atingir 1000, e é um produto cujo preço não vai diminuir, alguns apenas circunstancialmente e não por muito tempo, porque o produto físico se esgota...”
“Nós vemos as nossas minas de níquel, que vão deixando o buraco onde houve muito níquel. Isso também está acontecendo com o petróleo, as grandes jazidas já apareceram e cada vez são menos. Esse é um tema sobre o qual pensamos muito.”
“... mas existiam, se não me engano aproximadamente 3 000 entidades que operavam divisas convertíveis e decidiam com bastante amplitude as despesas em divisas convertíveis de seus lucros, se compro isto ou aquilo, se pintar, se comprar melhor um carrinho e não continuo com o carrinho velho que temos. Nós compreendemos que nas condições deste país essa situação devia ser ultrapassada...”
Houve simplesmente que fechar as usinas açucareiras ou íamos para a Fossa de Bartlett. O país tinha muitos economistas, muitos, muitos e não tento criticá-los, mas com a mesma honestidade que falo sobre os erros da Revolução posso perguntar-lhes por que não descobrimos que a manutenção daquela produção, quando havia tempo que a URSS se derrubou, o preço do petróleo era de 40 dólares por barril e o preço do açúcar estava muito baixo, por que não se racionalizava aquela indústria e por que era preciso semear 20 000 (1 caballeria = 13,6 hectares) esse “caballerias” ano, quer dizer, quase 270 000 hectares para o qual é preciso lavrar a terra com tratores e charrúas pesadas, semear uma plantação de cana que depois é necessário limpar com máquinas, fertilizar com custosos erbicidas, etc., etc, etc
“Havia muito tempo que a URSS tinha-se derrubado, ficamos sem combustível do dia para a noite, sem matérias-primas, sem alimentos, sem produtos para a higiene pessoal, sem nada. Talvez fosse preciso que acontecesse o que aconteceu, talvez foi necessário que sofrêssemos o que sofremos, dispostos, como estávamos a dar a vida cem vezes antes de entregar a Pátria, antes de entregar a Revolução...”
“Talvez foi necessário porque temos cometido muitos erros, e são os erros que estamos tentando retificar, se quiserem, que estamos retificando.”
“...sem abuso de poder!, nada justificaria jamais que algum de nós tentara abusar do poder. Sim, devemos atrever-nos, devemos ter coragem de dizer as verdades, [...] você não está obrigado a dizê-las todas de uma vez, as batalhas políticas tem a sua táctica, a informação adequada, seguem também o seu caminho. [...] Não importa o que digam os bandidos e as notícias que cheguem amanhã ou depois de amanhã, ri melhor quem ri por último.”
“A questão não é imprimir notas e distribuí-las sem terem equivalente em mercadorias ou serviços...”
“Finalmente demos as casas de presente, alguns as compravam, eram donos, pagaram 50 pesos mensais, 80 pesos, bom, segundo a troca, se o recebiam de Miami, eram aproximadamente US$ 3.00; alguns vendiam-na, US$ 15.000, US$ 20.000, no final dos anos a tinham pagado com menos de US$ 500.
“Pode o país pode resolver seu problema de habitação presenteando casas? Quem as recebia, o proletário, o humilde? Muitos humildes receberam a casa de presente e depois venderam-na ao novo rico. Quanto podia pagar o novo rico por uma casa? Isso é socialismo?
“Pode ser uma necessidade num momento determinado, também pode ser um erro, visto que o país sofreu um golpe esmagador, quando de um dia para o outro aconteceu o derrubamento da grande potência e nos deixou sozinhos, e perdemos todos os mercados para o açúcar e deixamos de receber víveres, combustível, até madeira para poder enterrar de maneira cristã os nossos mortos. E todos achavam: “Isso se derruba”, e os muito estúpidos ainda acreditam nisso, que isto vai cair e se não acontece agora, depois. E quanto mais ilusões tenham e mais pensem, mais devemos pensar nós, e mais conclusões devemos tirar, para que a derrota jamais atinja este glorioso povo que tanto confia em nós todos.”
“Que o império não venha a criar cárceres para torturar homens e mulheres progressistas do resto do continente que se ergue atualmente decidido rumo à segunda e definitiva independência!”
“É melhor que não fique nada do nosso passado nem de nenhum de nossos descendentes antes que tenhamos que viver novamente uma vida tão repugnante e miserável.”
“Enganaram o mundo. Quando surgiram os meios de comunicação em massa apoderaram-se das mentes e governavam não só com mentiras, mas também com reflexos condicionados. Não é o mesmo uma mentira que um reflexo condicionado: a mentira afeta o conhecimento; o reflexo condicionado afeta a capacidade de pensar. E não é o mesmo estar desinformado que perder a capacidade de pensar, porque já criaram-te os reflexos: “Isto é mau, isto é mau; o socialismo é mau; o socialismo é mau”, e todos os ignorantes e todos os pobres e todos os explorados dizendo: “O socialismo é mau” “O comunismo é mau” e todos os pobres, todos os explorados e todos os analfabetos repetindo: “O comunismo é mau. ”
“Cuba é má, Cuba é má”, disse o império, o disse em Genebra, o disse em vários lugares, e todos os explorados deste mundo, todos os analfabetos e todos os que não recebem atendimento médico, nem educação, nem te emprego garantido, que não têm nada garantido: “A Revolução Cubana é má, a Revolução Cubana é má”.
“De que falam? Que faze o analfabeto? Como pode saber que o Fundo Monetário Internacional é bom ou mau, e que os lucros são mais altos, e que o mundo é submetido e saqueado incessantemente através de mil métodos desse sistema? Ele não sabe.
“Não ensinam a ler nem a escrever as massas, todos os anos gastam um milhão de milhões em publicidade; e não é só o que gastam, senão que gastam criando reflexos condicionados, porque ele comprou Palmolive; aquele, Colgate; mais outro, sabonete Candado, porque, simplesmente, o repetiram cem vezes, associaram-no a uma imagem bonita, semearam-lhe, talharam-lhe o cérebro. Eles, que falam tanto a respeito da lavagem de cérebro, talham-no, dão-lhe forma, tiram ao ser humano a capacidade de pensar; e se fizessem isso com alguém formado na universidade que pode ler um livro, seria menos grave.
“O que é que pode ler o analfabeto? Como é que percebe que o estão enganando? Como á que percebe que a maior mentira do mundo quer dizer que isso é democracia, o sistema podre que impera aí e na maior parte, por não dizer em quase todos os países que copiaram este sistema? [...] Isso é o que faz com que a gente seja, transcorrido algum tempo, ainda mais revolucionário do que era quando ignorava muita coisa e apenas conhecia os elementos da injustiça e da desigualdade.
“No momento em que lhes digo isto não estou teorizando, embora tenhamos que teorizar; estamos atuando, marchamos visando uma mudança total de nossa sociedade.”
“O preço do petróleo não se corresponde atualmente com nenhuma lei de oferta e demanda; seu preço depende de outros fatores: da escassez, do esbanjamento colossal dos países ricos, e ele não tem nada a ver com nenhuma lei econômica. É sua escassez perante uma crescente e extraordinária demanda.”
“Instamos o povo todo a que coopere nesta grande batalha, que não é só a batalha do combustível, da eletricidade, é a batalha contra todos os roubos, de qualquer tipo, em qualquer lugar.”
“Não tenho nada contra ninguém, mas também não tenho nada contra a verdade. Não me casei com a mentira, para aquele que se zangar, sinto muito, mas posso lhe advertir de antemão que perderá a batalha, e não será um ato de injustiça nem de abuso de poder.”
“Você gasta finalmente US$ 1,9 por cada 300 quilowatts de eletricidade; quer dizer, um preço de US$ 0,63 centavos por um quilowatt cubano de eletricidade. Que maravilha!
“Quanto gasta o povo de Cuba, por culpa desse dólar que enviaram a você de lá? Porque este não foi um dólar que você ganhou, ou um peso, trabalhando [...] te mandam de lá, alguém que foi sadio, tudo o que estudou foi gratuito desde que nasceu, não está doente, são os cidadãos mais saudáveis que chegam aos Estados Unidos, têm uma lei de ajuste, e, além disso, lhe proíbem enviar remessas.
“Lógico que você não gastou nem um centavo do que lhe enviaram em medicina, a medicina está subsidiada, se a comprou numa farmácia, essa que não se levaram nem venderam por ai, você gastou 10% do que custam em divisas. Se você foi para o hospital e talvez o operaram do coração, do tornozelo, sua operação pode custar US$ 1.000, US$ 2.000, US$ 10.000, lá nos Estados Unidos se você sofreu um enfarte e lhe colocam um válvula, pode ser o que lhe custou a um empregado nosso lá na Repartição de Interesses, US$ 80.000. Você jamais deixou de receber atendimento; podem existir alguns maus-tratos num hospital, mas, você freqüentou algum hospital onde não foi atendido?
“... um dia [...] a Revolução, com os instrumentos desenvolvidos pela técnica, poderá saber onde se encontra cada caminhão, em qualquer lugar, em qualquer rua. Ninguém vai poder fugir no caminhão e ir visitar a tia, [...] a noiva. Não é que seja mau visitar o familiar, o amigo, a noiva, mas não no caminhão destinado para o trabalho...”
“É preciso aplicar também a máxima racionalidade no salário, nos preços, nas aposentadorias e pensões. Zero esbanjamento. [...]. Não somos um país capitalista, em que tudo foi deixado ao azar.
“Subsídios ou gratuidade só nas coisas essenciais e vitais. [...] E com que pagamos os custos? [...] Tudo isso está ao nosso alcance, tudo pertence ao povo, a única coisa não permissível é esbanjar riquezas de forma egoísta e irresponsável.
“Realmente, minha intenção não era ministrar uma conferência sobre temas tão sensíveis, mas teria sido um crime não aproveitar essa oportunidade para dizer algumas coisas que têm a ver com a economia, com a vida material do país, com o destino da Revolução, com as idéias revolucionárias, com as razões pelas quais iniciamos esta luta, com a força colossal que temos hoje, o país que somos e poderemos continuar sendo, e muito mais do que somos.”
“Falo a vocês com toda a confiança com que lhes posso falar.”
“...o país terá muito mais, mas não será jamais uma sociedade de consumo, será uma sociedade de conhecimentos, de cultura, do desenvolvimento humano mais extraordinário que possa ser concebido, desenvolvimento da cultura, da arte, da ciência [...] com uma plenitude de liberdade que ninguém poderá tolher. Isso sabemos hoje, não é preciso proclamá-lo, embora sim lembrá-lo.”
“Ninguém deve ter direito de fabricar armas nucleares. Ainda menos o privilégio que pretende ter o imperialismo para impor seu domínio hegemônico e tirar aos países do Terceiro Mundo seus recursos naturais e matérias-primas.”
“Deve acabar no mundo a prepotência, os abusos, o império da força e do terror. Este desaparece diante da ausência total de medo e cada vez são mais os povos que têm menos medo, cada vez serão mais os que se revoltem e o império não poderá sustentar o infame sistema que ainda sustenta.”
“É justo demais lutar por isso, e por isso devemos empregar todas nossas energias, todos nossos esforços, nosso tempo todo, para poder dizer na voz de milhões ou de centenas ou de bilhões. Vale a pena ter nascido! Vale a pena ter vivido!”
Foi assim que conclui aquele discurso, que hoje ratifico novamente.
Muito obrigado
17 de novembro de 2010
-- Solidariedade Internacional em 11/22/2010 11:30:00 AM
17 de Novembro de 2010
Caros estudantes universitários e demais convidados:
Apraz-me imenso a presença nesta reunião do Ministro do ensino superior, dos Reitores das universidades de Havana, de uma representação da União de Jovens Comunistas, presidida por sua Primeira-Secretária, da Direção Provincial e Nacional da Federação de Estudantes do Ensino Médio.
Lembro-me daquele 17 de novembro de 2005. Comemorava-se o Dia Internacional do Estudante. Vocês os universitários decidiram que eu falasse nesse dia. Completavam-se, disseram-me, 60 anos de meu ingresso na Universidade, finalizando o ano 1945. Nessa altura era um bocado mais jovem do que hoje; tinha a idade de vocês. Mas juntos temos vivido uma etapa da vida.
Na minha opinião, aquela reunião que tivemos na Universidade de Havana, há cinco anos, jamais se repetiria. Já tinha 79 anos. Porém há apenas dois meses, para ser mais exato, quando apresentei na Aula Magna o segundo livro de nossa guerra revolucionária: “A contra-ofensiva estratégica”, em 10 de setembro de 2010, ao finalizar, conversei com muitos veteranos daquelas lutas e quando saia do recinto cumprimentei um entusiasta grupo de dirigentes estudantis universitários que ficaram à minha espera, conversei com eles, explicaram-me sua ansiosa espera do dia 17 para que lhes falara do discurso.
Gostei daquele grupo. Não promoviam uma “revolução cultural”, queriam escutar novamente uma reflexão sobre as idéias expostas naquele dia.
Esse encontro já lhes pertencia. Era da opinião que transcorreria muito tempo entre o dia 10 de setembro e o 17 de novembro; outras coisas passavam por minha mente e lhes respondi: “ver-nos-emos nesse dia”.
Contudo sabia que aquele discurso provocou mal-estar, devido ao momento que estávamos a viver perante um poderoso inimigo que nos ameaçava cada vez mais, bloqueava cruelmente nossa economia e esforçava-se por espalhar o descontento, promovendo a violação das leis e as saídas ilegais do país, privando-o de uma reserva de força de trabalho jovem, cultural e tecnicamente bem preparada. Muitos deles eram levados mais tarde à realizar atividades ilícitas e a delinqüir.
Também estava o fato de minha tendência à autocrítica e à ironia com relação a nossas próprias ações. Apesar de ser cáustico em minhas palavras, defendi princípios e não fiz concessões.
Lembrava tudo isso, mas não as palavras exatas que usei, a totalidade dos argumentos expressados, e a considerável extensão do discurso.
Solicitei aos arquivos do Conselho de Estado uma cópia textual do mesmo, e deparei com 115 páginas em espaço simples que implica mais de 200 como estas que apenas excedem as 40.
Durante as últimas semanas o trabalho tem sido intenso, dedicado a muitas tarefas; entre elas, reuniões de entrevistas com o diretor principal da web site Global Research, Michel Chossudovsky; a esmagadora vitória eleitoral da extrema-direita dos Estados Unidos e, dentro dela, a do grupo fascista do Tea Party, a crise econômica sem precedentes; guerra de divisas, acompanhada de perto pela Cúpula do G-20 em Seúl; a Cúpula da APEC em Yokohama, Japão e daqui a dois dias, a Cúpula da NATO em Portugal nos dias 19 e 20 de novembro, que devemos acompanhar de perto.
Apesar disso, não me resignava a prorrogar ou suspender a data de nosso encontro.
Apoiado no texto original, fui pinçando as idéias principais do discurso que proferi naquela ocasião, para apresentá-las com as mesmas palavras que utilizei nesse momento. Omiti, visando ser breve, numerosos exemplos que complementavam os critérios que sustentava.
Confesso que fiquei surpreendido com a atualidade das idéias expostas que, transcorridos cinco anos, são mais atuais do que naquele momento, visto que muitas tinham relação com o futuro, e os fatos se desenvolveram tal como foram previstos; acontece que hoje, com os conhecimentos disponíveis sobre fenômenos como a mudança climática, a crise econômica que ultrapassa qualquer outra anterior, os perigos de guerra e a derivação do poder imperial para o fascismo, exigem dos jovens universitários um máximo de consagração e esforço na batalha ideológica.
Uma das primeiras idéias que expressei foi a seguinte:
“Os fatores que fizeram possível a vida no planeta Terra surgiram após bilhões de anos, essa vida frágil que pode transcorrer entre uns poucos graus por baixo de zero e uns poucos graus por cima de zero...”
Eu tentava recordar como eram aquelas universidades, a que nos dedicávamos, que nos preocupava. Nos preocupávamos com esta pequena ilha. [...] Ainda não se falava de globalização, não existia a televisão, não existia a Internet, não existiam as comunicações instantâneas de um extremo ao outro do planeta [...] Nos meus tempos, 1945, nossos aviões de passageiros apenas chegavam a Miami...”
“... acabava de acontecer uma terrível guerra, que custou por volta de 50 milhões de vidas, e falo do momento aquele, 1945, quando ingressei na universidade, em 4 de setembro; bom, ingressei nessa época, e vocês, logicamente, decidiram celebrar aquele aniversário num dia qualquer.“
Mais para frente perguntei: Que mundo é esse onde um império bárbaro proclama o direito de atacar por surpresa e de maneira preventiva 60 ou mais países, que é capaz de levar a morte a qualquer canto do mundo, utilizando as mais sofisticadas armas e técnicas de morte?
“Atualmente o império ameaça com atacar o Irã se produz combustível nuclear.”
“Atualmente se debate a nível internacional quais o dia e a hora, ou se será o império, ou utilizará — como fez no Iraque — o satélite israelense para o bombardeio preventivo e imprevisto de centros de pesquisa cujo objetivo é obter a tecnologia de produção do combustível nuclear.”
“... aquela nação exige seu direito a produzir combustível nuclear como qualquer outra nação entre as industrializadas e não ser obrigada a destruir a reserva de uma matéria prima, que serve não só como fonte energética, mas também como fonte de numerosos produtos, fonte de fertilizantes, fonte de têxteis, fonte de inúmeros materiais que hoje têm um uso universal.”
“... veremos que aconteceria se bombardeassem o Irã com o objetivo de destruir qualquer instalação que se dedique à produção de combustível nuclear.”
“Nós jamais pensamos na fabricação de armas nucleares. Nós temos outro tipo de armas nucleares, são nossas idéias [...] armas do poder das nucleares em virtude do poder invencível das armas morais, [...] e também não procurar armas biológicas [...] Armas para combater a morte, para combater a Aids, para combater as doenças, para combater o câncer, a isso dedicamos nossos recursos...”
“... em qualquer parte do mundo encontra-se um cárcere secreto onde torturam os defensores dos direitos humanos; são os mesmos que em Genebra, como cordeirinhos, votam, um a um, contra Cuba, o país que não conhece a tortura, para honra e glória desta geração, para honra e glória desta Revolução, para honra e glória de uma luta pela justiça, pela independência, pelo decoro humano que deve manter incólume sua pureza e sua dignidade!”
hoje de manhã chegavam notícias informando sobre o uso de fósforo vivo em Al-Fallüjah, ali onde o império descobriu que um povo, praticamente desarmado, não podia ser vencido e os invasores viram-se numa situação onde não podiam ir embora nem ficar: se iam embora, voltavam os combatentes; se ficavam, necessitavam essas tropas noutros lugares. Já morreram mais de 2 000 jovens soldados norte-americanos, e alguns se perguntam, até quando continuaram morrendo numa guerra injusta?...
“... converteram a entrada ao exército numa fonte de emprego, contratam desempregados, e muitas vezes tentam contratar o maior número de negros norte-americanos para suas guerras injustas, e chegam notícias de que cada vez menos negros norte-americanos estão dispostos a se inscreverem no exército, apesar do desemprego e da marginalização a que são submetidos...”
“Procuram latinos, imigrantes que, tentando escapar da fome, atravessaram a fronteira, essa fronteira onde todos os anos morrem mais de 500 imigrantes, muitos mais em 12 meses que os que morreram durante os 28 anos que durou o muro de Berlim.”
“... entravam os jovens nesta universidade, que não era, certamente, a universidade dos humildes; era a universidade da classe média, a universidade dos ricos do país, mas os jovens não se importavam com as idéias de sua classe e muitos deles eram capazes de lutar, e assim o fizeram ao longo da história de Cuba.
“Oito estudantes foram fuzilados em 1871 e foram o alicerce dos mais nobres sentimentos e do espírito de rebeldia de nosso povo...”
“Mella foi um deles, também pertencente à classe média; porque os das classes mais pobres, os filhos dos camponeses, não sabiam ler nem escrever...”
“... mencionei Mella, poderia mencionar Guiteras, poderia mencionar Trejo, que morreu [...] um 30 de setembro, na luta contra Machado;
“... quando a tirania batistiana voltou com todo seu rigor, muitos estudantes lutaram e muitos estudantes morreram, e aquele jovem de Cárdenas, Manzanita, como lhe chamavam, sempre rindo, sempre amável, sempre carinhoso com os demais, se destacava pela sua valentia, sua integridade [...]quando enfrentava a polícia.”
Se você visita a casa onde viveu Echeverría — José Antonio, vamos chamá-lo assim —, percebe que é uma casa boa, uma excelente casa. Vejam só como os estudantes não se importavam com sua origem social, nessa idade de tanta esperança, de tantos sonhos.
Naquela universidade, para estudar medicina havia apenas uma faculdade e um só hospital docente, e muitos ganhavam prêmios, primeiro prêmio em medicina e alguns, inclusive, de cirurgia sem terem operado nunca a ninguém.
“Alguns o conseguiam [...] Assim surgiram bons médicos, não uma massa de bons médicos — sim havia uma massa [...] que não tinham emprego, e quando triunfou a Revolução, foram precisamente para os Estados Unidos, e ficou a metade 3 000 e 25% dos professores. E daí partimos para o país de hoje, que se ergue já quase como capital da medicina mundial.
“... o país [...] já tem mais de 70 000 médicos.”
“Nós ingressamos na universidade finalizando o ano 1945, e iniciamos nossa luta armada no quartel Moncada em 26 de julho de 1953, [...] quase oito anos depois, e a Revolução triunfa cinco anos, cinco dias e cinco meses após o Moncada, e depois de um longo percurso pelos cárceres, pelo exílio, e pela luta nas montanhas. ”
“... não conhecíamos nem sequer muito bem as leis de gravidade, íamos encosta acima lutando contra o império, já que era o mais poderoso, [...] quando ainda existia outra superpotência, [...] foi marchando encosta acima que ganhamos experiência, que nosso povo e nossa Revolução se fortaleceram até chegar aqui.”
“... o ser humano é o único capaz, [...] de passar por cima de todos os instintos, [...] a natureza lhe impõe os instintos, a educação impõe as virtudes...”
“...apesar da diferença entre os seres humanos, possam ser um numa dada altura ou [...] ser milhões através das idéias.”
São as idéias as que nos unem, são as idéias as que nos fazem um povo combatente, são as idéias as que nos fazem já não só individualmente, mas sim coletivamente revolucionários, e é então [...] quando um povo jamais pode ser vencido...”
“... aqui a 90 milhas do colossal império, o mais poderoso que existiu jamais ao longo da história, e passaram 46 anos e lá está mais distante que nunca conseguir fazer ajoelhar a nação cubana, aquela que ofenderam e humilharam durante algum tempo...”
“Acho que foi (Ignácio) Agramonte, outros dizem que (Carlos Manuel de) Céspedes, quem, respondendo aos pessimistas quando ficou com 12 homens, exclamou: [...] com 12 homens se faz um povo [...] isso que se chama uma consciência revolucionária, que é a soma de muitas consciências [...] É filha do amor à Pátria e de amor ao mundo, não esquece aquilo de que Pátria é humanidade, proferido há mais de 100 anos.”
“Não esquecer jamais aqueles que durante anos foram nossa classe operária e trabalhadora, que viveram as décadas de sacrifício, os bandos mercenários nas montanhas, as invasões como a da Baía dos Porcos, os milhares de atos de sabotagens que custaram vidas de nossos trabalhadores açucareiros, da cana-de-açúcar, industriais, do comércio ou na marinha mercante, ou na pesca, os que de repente eram atacados com canhões e bazucas, só porque éramos cubanos, só porque queríamos a independência, só porque queríamos melhorar a sorte de nosso povo...”
“Cuba fala quando tenha que falar e Cuba tem muitas coisas que dizer, mas não está com pressa nem impaciente. Sabe muito bem quando, onde e como pode desferir um golpe ao império, a seu sistema e a seus lacaios.”
“... acho que esta humanidade e as grandes coisas que é capaz de criar, devem ser preservadas enquanto possam ser preservadas.”
“... este admirável e maravilhoso povo, ontem semente e hoje árvore crescida e com raízes profundas; ontem cheio de nobreza em potência e hoje cheio de nobreza real; ontem cheio de conhecimentos em seus sonhos e hoje cheio de conhecimentos reais, quando apenas está começando nesta gigantesca universidade que é hoje Cuba.”
“... vão surgindo novos quadros e quadros jovens.”
“Como vocês sabem, estamos em meio de uma batalha contra os vícios, contra os desvios de recursos, contra o roubo...”
“... não pensem que o roubo de recursos e de materiais é de hoje, ou do 'período especial', o 'período especial' agravou isso, porque o 'período especial' criou muitas desigualdades e o 'período especial' tornou possível que muitas pessoas tivessem muito dinheiro.”
“Do tempo que estou falando, para produzir uma tonelada de betão, se consumiam 800 quilos de cimento e uma tonelada de um bom betão [...] deve ser de mais ou menos 200 quilos. Vejam como se esbanjava, vejam como se desviavam recursos, como se roubava.”
“Nesta batalha contra os vícios não haverá trégua [...] e nós apelaremos à honra de cada setor. Estamos certos de uma coisa: de que em cada pessoa há uma alta dose de vergonha. Quando ela fica pensando não é um juiz severo, apesar de que, segundo minha opinião, o primeiro dever de um revolucionário é ser sumamente severo consigo próprio.”
“Crítica e autocrítica, é muito correto, isso não existia; mas não, se vamos travar a batalha devemos usar projéteis de maior calibre, é preciso utilizar a crítica e a autocrítica na sala da aula, na organização de base do Partido, e depois fora dela, depois no município e depois no país.”
“Posteriormente poderão surgir outras perguntas: Quanto ganhamos? Caso surgir a pergunta de quanto ganhamos, começaria a compreender-se o sonho de cada quem viva de seu salário ou de sua justíssima aposentadoria.”
“... temos ganhado consciência e que a vida toda é um aprendizado, até o último segundo, e começas a ver muitas coisas num momento...”
“Uma conclusão que tirei após muitos anos: entre muitos erros que todos temos cometido, o erro mais importante foi acreditar que alguém sabia de socialismo, ou que alguém sabia como se constrói o socialismo. Parecia ciência sabida, tão sabida como o sistema elétrico concebido por alguns que se consideravam peritos em sistemas elétricos. [...] seriamos estúpidos se acreditarmos, por exemplo, que a economia –e que me perdoem as dezenas de milhares de economistas que há no país- é uma ciência exata e eterna, e que existiu desde a época de Adão e Eva.
“Perde-se todo o senso dialético quando alguém acredita que essa mesma economia de hoje é igual a aquela de 50 anos atrás, ou 100 anos, ou há 150 anos, ou é igual à época de Lênin ou à época de Carlos Marx. A mil léguas de meu pensamento o revisionismo, faço um verdadeiro culto a Marx, a Engels e a Lênin.”
Quando estudante soube teoricamente o que era comunismo utópico, descobri que eu era um comunista utópico, porque todas minhas idéias partiam de: “Isto não é bom, isto é mau, isto é um erro. Como vão surgir as crises de superprodução e a fome quando há precisamente, mais capacidade de criar riquezas. Não seria mais simples produzi-las e reparti-las ?
Naquela altura parecia, como também achava Carlos Marx na época do Programa de Gotha, que o limite à abundancia radicava no sistema social; parecia que na medida em que se desenvolviam as forças produtivas podiam produzir, quase sem limites, o que o ser humano precisava para satisfazer suas necessidades essenciais de tipo material, cultural, etc.
“Quando escreveu livros políticos, como O 18 Brumário, As lutas Civis na França, era um gênio escrevendo, tinha uma interpretação claríssima. Seu Manifesto Comunista é uma obra clássica. Você pode analisá-la, pode ficar mais o menos satisfeito com umas coisas ou com outras. Eu passei do comunismo utópico para um comunismo baseado em teorias serias do desenvolvimento social...”
“Neste mundo real, que deve ser mudado, todo estratega e táctico revolucionário, tem o dever de conceber uma estratégia e uma estratégia que guiem ao objetivo fundamental de cambiar este mundo real. Nenhuma tática ou estratégia que divida seria boa.
“Tive o privilégio de conhecer aos da Teologia da Libertação uma vez no Chile, quando visitei a Allende no ano 1971, e lá encontrei muitos padres ou representantes de diversas denominações religiosas, e colocavam a idéia de juntar forças e lutar, sem levar em conta suas crenças religiosas.
“O mundo está precisando desesperadamente de uma unidade, Sé não conseguirmos conciliar o mínimo dessa unidade, não chegaremos a lugar nenhum.
“Lênine, sobre tudo estudou as questões do Estado; Marx não falava da aliança operário-camponesa, morava num país com grande auge industrial; Lênine viu o mundo subdesenvolvido, viu aquele país onde 80% ou 90% era camponês, e embora tivesse uma força operária poderosa nas ferrovias e nalgumas industrias, Lênine viu com absoluta clareza a necessidade da aliança operária-camponesa, da qual ninguém tinha falado, todos tinham filosofado, mas não tinham falado ao respeito. E num enorme país semi-feudal, semi-subdesenvolvido, é onde se produz a primeira revolução socialista, a primeira tentativa verdadeira de uma sociedade igualitária e justa; nenhuma das precedentes que foram escravistas, feudais, medievais, ou anti-feudais, burguesas, capitalistas, embora falassem muito em liberdade, igualdade e fraternidade, nenhum se propôs jamais uma sociedade justa.
“Ao longo da história, o primeiro esforço humano sério tentando criar a primeira sociedade justa, começou há menos de 200 anos...”
“Com dogmatismo jamais se tivesse chegado a uma estratégia. Lênine nos ensinou muito, porque Marx nos ensinou a compreender a sociedade; Lênine nos ensinou a compreender o Estado e o papel do Estado.”
“... quando a URSS se derrubou e ficou sozinha, muita gente, entre elas nós, os revolucionários cubanos. Mas nós sabíamos o que devíamos fazer, e o que tínhamos de fazer, quais eram nossas opções. Também estava o resto dos movimentos revolucionários em muitas partes travando sua luta. Não direi quais, não vou dizer quem; mas se tratava de movimentos revolucionários muito sérios, nos perguntaram se negociavam ou não perante aquela situação desesperada, se continuavam lutando ou não, ou se negociavam com as forças contrárias procurando uma paz, quando nós sabíamos a que conduzia aquela paz.”
“... Eu lhes dizia: “Vocês não nos podem pedir nossa opinião, são vocês os que iriam a lutar, são vocês os que morreriam, não somos nós. Nós sabemos o que faremos, e o que estamos dispostos a fazer; mas isso só pode ser decidido por vocês.”. Ai estava a mais extrema manifestação de respeito ao resto dos movimentos e não a tentativa de impor baseados nos nossos conhecimentos e experiências e o enorme respeito que sentiam por nossa Revolução para saber o peso de nossos pontos de vista.”
“Acho que a experiência do primeiro Estado Socialista, Estado que deveu compor-se e jamais destruir-se, tem sido muito amarga. Não pensem que não temos pensado é muitas ocasiões nesse fenômeno incrível mediante o qual uma das mais poderosas potências do mundo, que conseguiu equiparar sua força com a outra superpotência, um país que pagou com a vida de mais de 20 milhões de cidadãos a luta contra o fascismo, um país que esmagou ao fascismo, desabou como se desabou.
“Será que as Revoluções estão chamadas a se derrubarem, ou será que os homem podem fazer com que as revoluções se derrubem?. Os homens podem ou não impedir, a sociedade pode ou não pode impedir que as revoluções se derrubem?. Até poderia acrescentar-lhes uma pergunta imediatamente. Acham que este processo revolucionário, socialista, pode ou não derrubar-se? (Exclamações de: “Não!”) Pensaram nisso alguma vez? Pensaram-no com profundeza?
“Sabiam de todas estas desigualdades que estou falando? Conheciam certos hábitos generalizados? Sabiam que alguns ganhavam no mês quarenta ou cinqüenta vezes o que ganha um desses médicos que está lá nas montanhas da Guatemala, membro do contingente “Henry Reeve”? Pode estar noutros lugares distantes da África. Pode até estar a milhares de metros de altura, nas cordilheiras do Himalaia salvando vidas e ganha 5%, 10% do que ganha um ladrão destes que vende gasolina aos novos ricos, que desvia recursos dos portos em caminhões e por toneladas, que rouba nas lojas de divisa, que rouba num hotel cinco estrelas, talvez trocando a garrafa de rum por outra que procurou, a põe no lugar da outra e arrecada todas as divisas com as que vendeu os goles que podem sair da garrafa de um tipo de rum mais ou menos bom.”
“Também se pode explicar por que hoje já não talhamos mais a cana, não há quem a corte e as pesadas máquinas destroem os canaviais. Os abusos do mundo desenvolvido e os subsídios levaram os preços do açúcar que foram, naquele mercado mundial, o preço do lixeiro de açúcar, enquanto que em Europa pagavam duas ou três vezes mais a seus agricultores.”
“Eles estão aguardando um fenômeno natural e absolutamente lógico, que é o falecimento de alguém. Neste caso me honraram consideravelmente ao pensar em mim. Será uma confissão do que não conseguiram fazer desde há muito tempo. Se eu fosse um vaidoso, poderia ficar orgulhoso de que aqueles caras digam que têm que aguardar até que eu morra, e esse é o momento. Aguardar que morra, todos os dias inventam alguma coisa, que sim Castro tem isto que se tem o outro, se tal o mais qual enfermidade. ”
“Sim, eu tive uma queda muito grande, ainda estou reabilitando-me deste braço (assinala), e vai melhorando. Agradeço muitíssimo as circunstancias em que se quebrou meu braço, porque me obrigou a ter ainda mais disciplina, mais trabalho, a dedicar mais tempo, a dedicar quase as 24 horas do dia a meu trabalho, se já eu estava dedicando-as durante o período especial, agora dedico cada segundo e luto mais do que nunca...”
”Esse caso é como aquele do cara (fazia referência à revista Forbes)que descobriu que eu era o homem mais rico do mundo.”
“Eu fiz uma pergunta para vocês, companheiros estudantes, que não esqueci, nem sequer, e pretendo que vocês não a esqueçam nunca, e é a pergunta que faço diante das experiências históricas conhecidas e peço-lhes a todos, sem exceção, que reflitam: Pode ser ou não irreversível um processo revolucionário? Quais seriam as idéias ou o grau de consciência que tornariam impossível a reversão de um processo revolucionário?”
“O poder que tem uma liderança quando goza da confiança do povo, quando confiam na sua capacidade. São terríveis as conseqüências de um erro daqueles que têm maior autoridade, e isso aconteceu em mais de uma ocasião nos processos revolucionários.
“São coisas que a gente medita. Estuda a história, o quê aconteceu aqui, o quê aconteceu lá, o quê aconteceu lá, medita sobre o que aconteceu hoje e sobre o quê acontecerá amanhã, para onde conduzem os processos de cada país, para onde vai o nosso, como marchará o nosso, que papel desempenhará Cuba nesse processo.”
“Foi por essa razão que eu disse aquela palavra de que um dos nossos maiores erros no começo, e muitas vezes ao longo da Revolução, foi acreditar que alguém sabia como se construía o socialismo.”
“Qual sociedade seria esta, ou que digna de alegria quando nos reunimos em um lugar como este, um dia como este, se não soubéssemos o mínimo do que se deve saber para que nesta ilha histórica, este povo heróico, este povo que escreveu páginas não escritas por nenhum outro povo na história da humanidade preserve a Revolução? Vocês não pensem que quem lhes fala é um vaidoso, um charlatão, alguém que gosta do bluff. Transcorreram 46 anos e a história deste país é conhecida, os habitantes deste país a conhecem; a daquele império vizinho também, o seu tamanho, seu poder, sua força, sua riqueza, sua tecnologia, seu domínio sobre o Banco Mundial, seu domínio sobre o Fundo Monetário, seu domínio sobre as finanças mundiais, esse país que tem-nos imposto o mais brutal e incrível bloqueio, sobre o qual se falou lá nas Nações Unidas e Cuba recebeu o apóio de 182 países que passaram e votaram livremente ultrapassando os riscos de votar abertamente contra esse império. [...] Não apenas fizemos esta Revolução com o nosso próprio risco durante muitos anos, em determinado momento, tínhamos a certeza de que jamais se fossemos atacados direitamente pelos Estados Unidos lutariam por nós, nem podíamos pedi-lo.” Fazia referência à URSS.
“Com o desenvolvimento das tecnologias modernas era ingênuo pensar ou pedir ou esperar que aquela potência lutara contra a outra, se intervinha nesta pequena ilha que está aqui a 90 milhas, e tivemos a certeza total de que nunca receberíamos esse apóio. Ainda mais: um dia lhes perguntamos isso direitamente vários anos antes do seu desaparecimento: ‘Digam-no-lo francamente’ ‘Não.’ Responderam o que já sabíamos que íamos a responder, e então, mais do que nunca, aceleramos o desenvolvimento da nossa concepção e aperfeiçoamos as idéias tácticas e estratégicas com as que triunfou esta Revolução e venceu, com uma força que inicia a sua luta com sete homens armados contra um inimigo que dispunha 80 000 homens entre marinheiros, soldados, policiais, etc, tanques, aviões, todo tipo de armas modernas que naquela época podia-se possuir, era infinita a diferença entre nossas armas e as armas que tinha aquela força armada treinada pelos Estados Unidos, apoiada pelos Estados Unidos e fornecida pelos Estados Unidos.”
“Hoje temos muito mais do que sete fuzis, temos todo um povo que aprendeu a utilizar as armas, todo um povo que, apesar de nossos erros, tem tal nível de cultura, de conhecimento e de consciência que nunca permitiria que este país se tornasse novamente em uma colônia deles.
“Este país pode autodestruir-se a si mesmo; esta Revolução pode destruir-se, são eles os que hoje não podem destruí-la; nós sim, nós podemos destruí-la e seria a nossa culpa.
“Tenho o privilégio de viver muitos anos, isso não é um mérito, mas é uma excepcional oportunidade para dizer-lhes a vocês, a todos os líderes da juventude, a todos os líderes das organizações de massa, a todos os líderes do movimento operário, dos Comitês de Defesa da Revolução, das mulheres, dos camponeses, dos combatentes da Revolução organizados em todas as partes, lutadores durante anos que em cifra de centenas de milhar cumpriram gloriosas missões internacionalistas..”
“... é impressionante ver os mais humildes setores sociais deste país convertidos em 28 000 trabalhadores sociais e centenas de milhar de estudantes universitários, universitários! Vejam que força! E em breve veremos também em ação a aqueles que formamos há pouco tempo na cidade esportiva.
“A cidade esportiva nos ensina sobre o marxismo-leninismo; ensina-nos sobre as classes sociais; a cidade esportiva reuniu há pouco tempo aproximadamente a 15 000 médicos e estudantes de medicina e a alguns da ELAM, e outros que vieram inclusive de Timor Leste para estudar medicina, nunca poderá se esquecer. Não acredito que se trate de um sentimento pessoal de qualquer de nós.
“Nunca esta sociedade esquecerá essas imagens das 15 000 batas brancas que ali se reuniram no dia em que se formaram os estudantes de medicina, no dia em que foi criado o contingente “Henry Reeve”, que já em um número considerável enviou suas forças para os lugares onde aconteceram fenômenos excepcionais em um tempo muito mais breve do que imaginávamos.
“Permitam-me dizer-lhes que hoje praticamente o capital humano é, ou avança aceleradamente para tornar-se o mais importante recurso do país, ultrapassando inclusive a o resto todos juntos. Não estou exagerando.”
“Por ai descobrimos postos de gasolina privados, alimentados com o combustível dos motoristas destes caminhões-cisterna.
“Algo que é conhecido é que muitos dos caminhões do Estado vão por um lado ou por outro e sempre alguém aproveita a ocasião para visitar um parente, um amigo, uma família ou a namorada.
“Lembro aquela vez, há vários anos antes do chamado período especial que vi rápido pela Quinta Avenida uma suntuosa carregadeira frontal Volvo quase acabado de comprar, que naquela época custavam 50 000 ou 60 000 dólares. Senti curiosidade de saber para onde é que ia a aquela velocidade e pedi ao escolta: “Espera, pergunta-lhe para onde vai, que te fale francamente.” E confessou que ia visitar à namorada com aquele Volvo, que corria a toda velocidade pela Quinta Avenida.
“Vereis coisas, Mio Cid – dizem que alguém disse lá, seria Cervantes-, que farão falar às pedras.
“... coisas como essas aconteceram. E, geralmente, o sabemos tudo, e muitos disseram: “A Revolução não pode; não, isto é impossível; não, ninguém pode solucionar isto.” Sim, isto vai solucioná-lo o povo, isto vai solucioná-lo a Revolução e de que maneira. É apenas uma questão de ética? Sim, é, antes de mais, uma questão de ética; mas, além disso, é uma questão econômica vital.
“Este é um dos povos mais esbanjadores de energia combustível do mundo. Aqui ficou demonstrado, e vocês com toda a honradez o disseram, e é muito importante. Ninguém sabe quanto custa a eletricidade, ninguém sabe quanto custa a gasolina, ninguém sabe o valor que tem no mercado. Ia dizer-lhes que é muito triste quando uma tonelada de petróleo pode custar 400 e de gasolina 500, 600, 700 e por vezes chegou a atingir 1000, e é um produto cujo preço não vai diminuir, alguns apenas circunstancialmente e não por muito tempo, porque o produto físico se esgota...”
“Nós vemos as nossas minas de níquel, que vão deixando o buraco onde houve muito níquel. Isso também está acontecendo com o petróleo, as grandes jazidas já apareceram e cada vez são menos. Esse é um tema sobre o qual pensamos muito.”
“... mas existiam, se não me engano aproximadamente 3 000 entidades que operavam divisas convertíveis e decidiam com bastante amplitude as despesas em divisas convertíveis de seus lucros, se compro isto ou aquilo, se pintar, se comprar melhor um carrinho e não continuo com o carrinho velho que temos. Nós compreendemos que nas condições deste país essa situação devia ser ultrapassada...”
Houve simplesmente que fechar as usinas açucareiras ou íamos para a Fossa de Bartlett. O país tinha muitos economistas, muitos, muitos e não tento criticá-los, mas com a mesma honestidade que falo sobre os erros da Revolução posso perguntar-lhes por que não descobrimos que a manutenção daquela produção, quando havia tempo que a URSS se derrubou, o preço do petróleo era de 40 dólares por barril e o preço do açúcar estava muito baixo, por que não se racionalizava aquela indústria e por que era preciso semear 20 000 (1 caballeria = 13,6 hectares) esse “caballerias” ano, quer dizer, quase 270 000 hectares para o qual é preciso lavrar a terra com tratores e charrúas pesadas, semear uma plantação de cana que depois é necessário limpar com máquinas, fertilizar com custosos erbicidas, etc., etc, etc
“Havia muito tempo que a URSS tinha-se derrubado, ficamos sem combustível do dia para a noite, sem matérias-primas, sem alimentos, sem produtos para a higiene pessoal, sem nada. Talvez fosse preciso que acontecesse o que aconteceu, talvez foi necessário que sofrêssemos o que sofremos, dispostos, como estávamos a dar a vida cem vezes antes de entregar a Pátria, antes de entregar a Revolução...”
“Talvez foi necessário porque temos cometido muitos erros, e são os erros que estamos tentando retificar, se quiserem, que estamos retificando.”
“...sem abuso de poder!, nada justificaria jamais que algum de nós tentara abusar do poder. Sim, devemos atrever-nos, devemos ter coragem de dizer as verdades, [...] você não está obrigado a dizê-las todas de uma vez, as batalhas políticas tem a sua táctica, a informação adequada, seguem também o seu caminho. [...] Não importa o que digam os bandidos e as notícias que cheguem amanhã ou depois de amanhã, ri melhor quem ri por último.”
“A questão não é imprimir notas e distribuí-las sem terem equivalente em mercadorias ou serviços...”
“Finalmente demos as casas de presente, alguns as compravam, eram donos, pagaram 50 pesos mensais, 80 pesos, bom, segundo a troca, se o recebiam de Miami, eram aproximadamente US$ 3.00; alguns vendiam-na, US$ 15.000, US$ 20.000, no final dos anos a tinham pagado com menos de US$ 500.
“Pode o país pode resolver seu problema de habitação presenteando casas? Quem as recebia, o proletário, o humilde? Muitos humildes receberam a casa de presente e depois venderam-na ao novo rico. Quanto podia pagar o novo rico por uma casa? Isso é socialismo?
“Pode ser uma necessidade num momento determinado, também pode ser um erro, visto que o país sofreu um golpe esmagador, quando de um dia para o outro aconteceu o derrubamento da grande potência e nos deixou sozinhos, e perdemos todos os mercados para o açúcar e deixamos de receber víveres, combustível, até madeira para poder enterrar de maneira cristã os nossos mortos. E todos achavam: “Isso se derruba”, e os muito estúpidos ainda acreditam nisso, que isto vai cair e se não acontece agora, depois. E quanto mais ilusões tenham e mais pensem, mais devemos pensar nós, e mais conclusões devemos tirar, para que a derrota jamais atinja este glorioso povo que tanto confia em nós todos.”
“Que o império não venha a criar cárceres para torturar homens e mulheres progressistas do resto do continente que se ergue atualmente decidido rumo à segunda e definitiva independência!”
“É melhor que não fique nada do nosso passado nem de nenhum de nossos descendentes antes que tenhamos que viver novamente uma vida tão repugnante e miserável.”
“Enganaram o mundo. Quando surgiram os meios de comunicação em massa apoderaram-se das mentes e governavam não só com mentiras, mas também com reflexos condicionados. Não é o mesmo uma mentira que um reflexo condicionado: a mentira afeta o conhecimento; o reflexo condicionado afeta a capacidade de pensar. E não é o mesmo estar desinformado que perder a capacidade de pensar, porque já criaram-te os reflexos: “Isto é mau, isto é mau; o socialismo é mau; o socialismo é mau”, e todos os ignorantes e todos os pobres e todos os explorados dizendo: “O socialismo é mau” “O comunismo é mau” e todos os pobres, todos os explorados e todos os analfabetos repetindo: “O comunismo é mau. ”
“Cuba é má, Cuba é má”, disse o império, o disse em Genebra, o disse em vários lugares, e todos os explorados deste mundo, todos os analfabetos e todos os que não recebem atendimento médico, nem educação, nem te emprego garantido, que não têm nada garantido: “A Revolução Cubana é má, a Revolução Cubana é má”.
“De que falam? Que faze o analfabeto? Como pode saber que o Fundo Monetário Internacional é bom ou mau, e que os lucros são mais altos, e que o mundo é submetido e saqueado incessantemente através de mil métodos desse sistema? Ele não sabe.
“Não ensinam a ler nem a escrever as massas, todos os anos gastam um milhão de milhões em publicidade; e não é só o que gastam, senão que gastam criando reflexos condicionados, porque ele comprou Palmolive; aquele, Colgate; mais outro, sabonete Candado, porque, simplesmente, o repetiram cem vezes, associaram-no a uma imagem bonita, semearam-lhe, talharam-lhe o cérebro. Eles, que falam tanto a respeito da lavagem de cérebro, talham-no, dão-lhe forma, tiram ao ser humano a capacidade de pensar; e se fizessem isso com alguém formado na universidade que pode ler um livro, seria menos grave.
“O que é que pode ler o analfabeto? Como é que percebe que o estão enganando? Como á que percebe que a maior mentira do mundo quer dizer que isso é democracia, o sistema podre que impera aí e na maior parte, por não dizer em quase todos os países que copiaram este sistema? [...] Isso é o que faz com que a gente seja, transcorrido algum tempo, ainda mais revolucionário do que era quando ignorava muita coisa e apenas conhecia os elementos da injustiça e da desigualdade.
“No momento em que lhes digo isto não estou teorizando, embora tenhamos que teorizar; estamos atuando, marchamos visando uma mudança total de nossa sociedade.”
“O preço do petróleo não se corresponde atualmente com nenhuma lei de oferta e demanda; seu preço depende de outros fatores: da escassez, do esbanjamento colossal dos países ricos, e ele não tem nada a ver com nenhuma lei econômica. É sua escassez perante uma crescente e extraordinária demanda.”
“Instamos o povo todo a que coopere nesta grande batalha, que não é só a batalha do combustível, da eletricidade, é a batalha contra todos os roubos, de qualquer tipo, em qualquer lugar.”
“Não tenho nada contra ninguém, mas também não tenho nada contra a verdade. Não me casei com a mentira, para aquele que se zangar, sinto muito, mas posso lhe advertir de antemão que perderá a batalha, e não será um ato de injustiça nem de abuso de poder.”
“Você gasta finalmente US$ 1,9 por cada 300 quilowatts de eletricidade; quer dizer, um preço de US$ 0,63 centavos por um quilowatt cubano de eletricidade. Que maravilha!
“Quanto gasta o povo de Cuba, por culpa desse dólar que enviaram a você de lá? Porque este não foi um dólar que você ganhou, ou um peso, trabalhando [...] te mandam de lá, alguém que foi sadio, tudo o que estudou foi gratuito desde que nasceu, não está doente, são os cidadãos mais saudáveis que chegam aos Estados Unidos, têm uma lei de ajuste, e, além disso, lhe proíbem enviar remessas.
“Lógico que você não gastou nem um centavo do que lhe enviaram em medicina, a medicina está subsidiada, se a comprou numa farmácia, essa que não se levaram nem venderam por ai, você gastou 10% do que custam em divisas. Se você foi para o hospital e talvez o operaram do coração, do tornozelo, sua operação pode custar US$ 1.000, US$ 2.000, US$ 10.000, lá nos Estados Unidos se você sofreu um enfarte e lhe colocam um válvula, pode ser o que lhe custou a um empregado nosso lá na Repartição de Interesses, US$ 80.000. Você jamais deixou de receber atendimento; podem existir alguns maus-tratos num hospital, mas, você freqüentou algum hospital onde não foi atendido?
“... um dia [...] a Revolução, com os instrumentos desenvolvidos pela técnica, poderá saber onde se encontra cada caminhão, em qualquer lugar, em qualquer rua. Ninguém vai poder fugir no caminhão e ir visitar a tia, [...] a noiva. Não é que seja mau visitar o familiar, o amigo, a noiva, mas não no caminhão destinado para o trabalho...”
“É preciso aplicar também a máxima racionalidade no salário, nos preços, nas aposentadorias e pensões. Zero esbanjamento. [...]. Não somos um país capitalista, em que tudo foi deixado ao azar.
“Subsídios ou gratuidade só nas coisas essenciais e vitais. [...] E com que pagamos os custos? [...] Tudo isso está ao nosso alcance, tudo pertence ao povo, a única coisa não permissível é esbanjar riquezas de forma egoísta e irresponsável.
“Realmente, minha intenção não era ministrar uma conferência sobre temas tão sensíveis, mas teria sido um crime não aproveitar essa oportunidade para dizer algumas coisas que têm a ver com a economia, com a vida material do país, com o destino da Revolução, com as idéias revolucionárias, com as razões pelas quais iniciamos esta luta, com a força colossal que temos hoje, o país que somos e poderemos continuar sendo, e muito mais do que somos.”
“Falo a vocês com toda a confiança com que lhes posso falar.”
“...o país terá muito mais, mas não será jamais uma sociedade de consumo, será uma sociedade de conhecimentos, de cultura, do desenvolvimento humano mais extraordinário que possa ser concebido, desenvolvimento da cultura, da arte, da ciência [...] com uma plenitude de liberdade que ninguém poderá tolher. Isso sabemos hoje, não é preciso proclamá-lo, embora sim lembrá-lo.”
“Ninguém deve ter direito de fabricar armas nucleares. Ainda menos o privilégio que pretende ter o imperialismo para impor seu domínio hegemônico e tirar aos países do Terceiro Mundo seus recursos naturais e matérias-primas.”
“Deve acabar no mundo a prepotência, os abusos, o império da força e do terror. Este desaparece diante da ausência total de medo e cada vez são mais os povos que têm menos medo, cada vez serão mais os que se revoltem e o império não poderá sustentar o infame sistema que ainda sustenta.”
“É justo demais lutar por isso, e por isso devemos empregar todas nossas energias, todos nossos esforços, nosso tempo todo, para poder dizer na voz de milhões ou de centenas ou de bilhões. Vale a pena ter nascido! Vale a pena ter vivido!”
Foi assim que conclui aquele discurso, que hoje ratifico novamente.
Muito obrigado
17 de novembro de 2010
-- Solidariedade Internacional em 11/22/2010 11:30:00 AM
--
Viva os 52 anos da Revolução Cubana.
Liberdade para os 5 heróis cubanos
(48) 3025 2991 / 9946 9441
Associação Cultural José Martí de SC.
http://edisonpuente.blogspot.com/
Documento final da Conferencia internacional de EJA
DEIXO O LINK DO DOCUMENTO FINAL DA CONFERENCIA INERNACIONAL DE JOVENS E ADULTOS, OCORRIDA EM BELEM DO PARÁ, ANO 2010.
http://forumeja.org.br/sites/forumeja.org.br/files/miolo_Marco_Belem_port.PDF
http://forumeja.org.br/sites/forumeja.org.br/files/miolo_Marco_Belem_port.PDF
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
CONVENÇÃO DE GENEBRA - EM CASOS DE GUERRA
Convenção de Genebra
(1864)
Fábio Konder Comparato
(1864)
Fábio Konder Comparato
Ela inaugura o que se convencionou chamar direito humanitário, em matéria internacional; isto é, o conjunto das leis e costumes da guerra, visando minorar o sofrimento de soldados doentes e feridos, bem como de populações civis atingidas por um conflito bélico. É a primeira introdução dos direitos humanos na esfera internacional. O direito da guerra e da paz, cuja sistematização foi feita originalmente por Hugo Grócio em sua obra seminal no início do século XVII (Ius Belli ac Pacis), passou, desde então, a bipartir-se em direito preventivo da guerra (ius ad bellum) e direito da situação ou estado de guerra (ius in bello), destinado a regular as ações das potências combatentes.
A evolução posterior, no entanto, levou ao reconhecimento da injuricidade objetiva da guerra como solução de conflitos internacional, quaisquer que sejam as razões de seu desencadear. O direito contemporâneo, a partir da Carta de São Francisco, instituidora das Nações Unidas, restringiu sobremaneira o conceito de guerra justa, elaborado pelos doutores da Igreja na Idade Média.
Com base nisto, tem-se insistido ultimamente na tese de que o direito do estado de guerra (ius in bello) já não poderia existir, por ser uma contradição nos termos: se a guerra constitui em si mesma um ilícito e, mais do que isso, um crime internacional, não faz sentido regular juridicamente as operações bélicas – o Direito não pode organizar a prática de um crime.
Tal argumento, impressionante à primeira vista pelo seu aparente rigor lógico, não é contudo aceitável. Se a guerra, no estado presente do direito internacional, constitui em si mesma um crime, nada impede que se reconheça a prática, por qualquer das partes beligerantes, de outros ilícitos durante o desenrolar do conflito. A violação dos princípios e normas do direito humanitário, durante uma conflagração armada, pode por conseguintes representar, ele também, em crime de guerra. No julgamento de 27 de junho de 1986 no caso Nicarágua v. Estados Unidos, de resto, a Corte Internacional de Justiça reconheceu plena vigência dos “princípios gerais de base do direito humanitário”.
A Convenção assinada em Genebra em 22 de agosto de 1864, unicamente por potências européias, e destinada a “melhorar a sorte dos militares nos exércitos em campanha”, originou-se dos esforços de uma comissão reunida em torno do suíço Henry Dunant. Em livro publicado em 1862 e que teve ampla repercussão (Un Souvenir de Solférino), ele relatou como organizara, durante a batalha de Solferino de junho de 1859 entre os exércitos austríacos e franco-piemonteses, os serviços de pronto-socorro para os soldados feridos de ambos os lados.
A comissão genebrina, que teve na origem da convenção de 1864 foi revista, a fim de se estenderem seus princípios aos conflitos marítimos (Convenção de Haia de 1907) e aos prisioneiros de guerra (Convenção de Genebra de 1929). Em 1925, outra Convenção, igualmente assinada em Genebra, proibiu a utilização , durante a guerra, de gases asfixiantes ou tóxicos, bem como de armas bacteriológicas. As convenções sobre soldados feridos e prisioneiros de guerra foram revistas e consolidadas em três convenções celebradas em Genebra em 1949, sob os auspícios da Comissão Internacional da Cruz Vermelha. Na mesma ocasião, foi celebrada uma Quarta convenção, tendo por objetivo a proteção da população civil em caso de guerra.
O Texto
Sua Majestade o Rei dos Belgas, Sua Alteza Real o grão-duque de Baden, Sua Majestade o Rei da Dinamarca, Sua Majestade a Rainha da Espanha, Sua Majestade o Imperador dos Franceses, Sua Alteza Real o grão-duque de Hesse, Sua Majestade o Rei da Itália, Sua Majestade o Rei dos Países Baixos, Sua Majestade o Rei de Portugal e Algarve, Sua Majestade o Rei da Prússia, a Confederação Suíça, Sua Majestade o Rei de Wurtermberg:
Animados, por igual, do desejo de suavizar, tanto quanto deles dependa, os males irreparáveis da guerra, de suprimir os rigores inúteis e melhorar a sorte dos militares feridos nos campos de batalha, resolveram concluir uma Convenção com esse objetivo e nomearam seus Plenipotenciários, a saber:
(...)
os quais, após terem apresentado seus poderes, encontrados em boa e devida forma, convencionaram os artigos seguintes:
artigo 1º As ambulâncias e os hospitais militares serão reconhecidos como neutros e como tal protegidos e respeitados pelos beligerantes, durante todo tempo em que neles houver doentes e feridos.
A neutralidade cessará, se essas ambulâncias ou hospitais forem guardados por uma força militar.
Artigo 2º O pessoal dos hospitais e das ambulâncias, nele incluídos a intendência, os serviços de saúde, de administração, de transporte de feridos, assim como os capelães, participarão do benefício da neutralidade, enquanto estiverem em atividade e subsistirem feridos a recolher ou a recorrer.
Artigo 3º As pessoas designadas no artigo procedente poderão, mesmo após a ocupação pelo inimigo, continuar a exercer suas funções no hospital ou ambulância em que servirem, ou retirar-se para retomar seus postos na corporação a que pertencem,
Nesses circunstâncias, quando tais pessoas cessarem suas funções, elas serão entregues aos postos avançados do inimigo, sob a responsabilidade do exército de ocupação.
Artigo 4º Tendo em vista que o material dos hospitais militares permanece submetido às leis de guerra, as pessoas em serviço nesses hospitais não poderão, ao se retirarem, levar consigo os objetos que constituem propriedade particular dos hospitais.
Nas mesmas circunstâncias, ao revés, a ambulância conservará seu material.
Artigo 5º Os habitantes do país, os quais socorrem os feridos, serão respeitados e permanecerão livres.
Os generais das Potências beligerantes terão por missão prevenir os habitantes do apelo assim feito ao seu sentimento de humanidade e da neutralidade que lhe é conseqüente. Todo ferido, recolhido e tratado numa casa particular, conferirá salvaguarda a esta última. O habitante que recolher feridos em sua casa será dispensado de elogiar as tropas, assim como de pagar uma parte dos tributos de guerra que lhe seriam impostos.
Artigo 6º Os militares feridos ou doentes serão recolhidos e tratados, qualquer que seja a nação à qual pertençam.
Os comandantes em chefe terão a faculdade de entregar imediatamente, aos postos avançados do inimigo, os militares feridos em combate, quando as circunstâncias o permitirem e desde `haja consentimento de ambas as partes.
Serão repatriados em seus países aqueles que, uma vez curados, forem reconhecidos como incapazes de servir.
Os outros poderão igualmente ser repatriados, sob a condição de não retomarem armas durante toda a guerra.
As forças de retirada, como o pessoal que as dirige, ficarão garantidas por uma neutralidade absoluta.
Artigo 7º Uma bandeira distinta e uniforme será adotada pelos hospitais e ambulâncias, bem como durante as retiradas. Ela deverá ser, em qualquer circunstância, acompanhada da bandeira nacional.
Uma braçadeira será igualmente admitida para o pessoal neutro; mas a sua distribuição ficará a cargo da autoridade militar.
A bandeira e a braçadeira terão uma cruz vermelha sobre fundo branco.